Lá vai ele. Como um saco plástico, desses de supermercado. Levado pelo vento e pela poeira, alça vôo, a alguns metros acima do calçamento da via pública, como um pássaro de plástico. Vai numa grotesca e atabalhoada coreografia, levado pela sua própria leveza oca e pelo vento. Sobe, desce, dá piruetas e cambalhotas. Sempre na mesma direção. Sempre no mesmo sentido, ou na falta de sentido - e de rumo. O homem vazio é aquele saco plástico. Lá vai o homem vazio caminhando seus próprios (des)caminhos, cumprindo seus dias. Lá vai ele, completamente vazio: apenas pele, ossos e vísceras. Segue inerte, sem sentido e rumo, movido pelo acaso ou pelos ventos. Tal qual o saco plástico da nossa metáfora. Segue. Alheio ao cantar dos pássaros. Alheio à lua-cheia; ao pôr-do-sol. Alheio à vida. Alheio ao amor. Alheio a tudo que é essencial. Vazio de idéias, sentimentos. Vazio de caráter. Como que destituído de ânimo, de emoções. O homem vazio está em todos os caminhos e lugares, em todas as vias. Está no Congresso. Está no executivo estadual e municipal - mas também pode chegar um dia ao executivo federal (nas últimas eleições, um homem vazio quase se elegeu presidente da República). Está também no Judiciário - no Supremo, inclusive. Pode ser até mesmo o prefeito da maior cidade de seu país. Pode ser um governador de Estado. Pode ser um senador da República; um deputado; um vereador. O homem vazio está também nas empresas - grandes, médias e pequenas; públicas e privadas. Geralmente ocupa cargos de chefia, onde executa sua pantomima infame, vazia, ordinária - quase sempre manietado por um político ou empresário. E assim torna vazia a vida de seus funcionários. O homem vazio também está nas Redações, nos jornais e revistas; na internet. Está nas escolas! Sim, dezenas, centenas de homens vazios estão, nesse preciso instante, nas salas de aula, ensinando nossas crianças e jovens a serem, como eles, vazios. Homens vazios estão nas faculdades formando professores, engenheiros, médicos, jornalistas vazios. É preciso que identifiquemos e nos livremos dos homens vazios. É preciso colocar o necessário "enchimento" nos homens para que estes deixem de ser vazios. É preciso cuidar do homem para que deixe de vagar, vazio, ao sabor do acaso.
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