Ficou num passado de triste lembrança a imagem de uma Polícia Federal (PF) que, em funesta parceria com a Polícia do Exército (PE), prendia e, muitas vezes, “desaparecia” com os filhos dessa pátria mãe gentil; a mesma que invadiu, no governo Collor, o prédio do jornal Folha de S.Paulo; que acobertava os crimes e desmandos dos governantes e de uma elite chupim que parasitavam a riqueza nacional. Uma elite que se habituou à pilhagem do Estado, à privatização da coisa pública, aos desvios de conduta e de verbas do erário com uma desenvoltura e desfaçatez que beiram o caricatural. Essa PF, cúmplice dos que pilham a nação, ficou no passado – espero que sepultada para todo o sempre, com direito a rito de passagem e esclarecedor e definitivo epitáfio. Hoje, todos observamos uma ação mais competente, cidadã e republicana da nossa Polícia Federal. Sim, posso agora, sem medo de fantasmas do passado, chamá-la de “nossa”. Sim, posso dizer sem receios ou pudor, agora ela, finalmente, faz jus a esses qualificativos (competente, cidadã e republicana) – e a alguns outros mais que lhes são devidos. Vemos, estupefatos, praticamente todas as semanas, dezenas de políticos, policiais (alguns da própria PF, inclusive – a velha banda podre), empresários, profissionais liberais, membros do Judiciário, e até do Executivo municipal serem presos acusados de crime de malversação de dinheiro público, venda de sentenças e formação de quadrilha, dentre outros variados crimes previstos no código penal. Para registro e justiça: há que se dividir o mérito aqui com o Ministério Público, que tem trabalhado em estreita cooperação/colaboração com a Polícia Federal. Ou seria o contrário: a PF que trabalharia a serviço do MP? A ordem dos fatores parece não alterar mesmo o produto, qual seja: o cumprimento de sua missão/vocação Constitucional e a prestação de um serviço público de qualidade. Sim, decerto, também para registro: o MP também tem a sua banda podre, partidarizada, corrompida pelos interesses de grupos políticos e/ou empresariais. Mas o trabalho do MP, de um modo geral, em sua essência, merece ser louvado. As ações da PF e do MP atingem toda a sociedade sem distinções, todos os grupos e classes sociais, pois a corrupção, numa irrefreável recidiva, já se espalhou, como um câncer em acelerada metástase, por todo o tecido social. Existe corrupção nos concursos vestibulares, com a venda de provas e gabaritos – e até de vagas nas faculdades. Recentemente, descobriu-se que até no concurso da OAB havia “esquemas” ilegais. Na cidade de São Paulo, vende-se carta de motorista por R$ 330,00 – em 3 vezes de R$ 110,00 no cartão de crédito (!). A corrupção é uma verdadeira praga e maldição em sua ubiqüidade e onipresença. A sociedade, com suas conseqüentes relações em grupo, sejam relações de troca (empresariais ou comerciais), ou mesmo relações meramente sociais e até mesmo familiares, tornou-se um grande galpão de negócios escusos. A sentença merece aqui reiteração em sua perversa síntese: a sociedade tornou-se um grande balcão de negócios escusos. Existe, desgraçadamente, há muito disseminada e já entranhada na sociedade como um todo, a cultura perversa e maldita da corrupção – acalentada pela velha máxima individualista de que o lance é levar vantagem em tudo; o lance é se dar bem. Portanto, a PF e o MP terão ainda muito trabalho pela frente. Muitas operações com nomes épicos/bíblicos/eruditos ainda terão que ser desencadeadas e levadas a bom termo. Pois, como bem dizia com bom humor e certa dose de cinismo a cantiga popular: se gritar “pega o ladrão!”, não fica um, meu irmão. Agora, faz-se necessário que a Justiça cumpra com seu papel punindo exemplarmente os flagrados em desvios de conduta e funcionais. Pois, sabe-se, a certeza da impunidade faz do crime um negócio de oportunidade – em todos os sentidos. A oportunidade faz o ladrão. As polícias – e aí se incluem também as estaduais e municipais (daí o emprego do plural) – devem proteger e servir ao Estado e aos cidadãos. E que sirva como lição às demais polícias a ação da nossa valorosa PF. Já passou da hora das polícias militares e civis servirem à sociedade e à cidadania. Com a palavra os governantes, os secretários de Segurança Pública, os comandantes e autoridades máximas dessas polícias – e, claro, também os seus comandados: os policias militares e civis. Louvada seja a nossa PF! E que os demais servidores públicos sejam todos, um dia, sem exceção, dignos de nossa louvação – notadamente os “heróicos” que resistiram, e ainda resistem, em meio às ruínas da coisa pública, também na esfera federal, mas hoje notadamente no âmbito estadual e municipal.
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