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SEÇÃO
Crônicas
17/05/2007 - 07h02
O cachorro, nós e os fantasmas
Artur de Carvalho - Agência Carta Maior
 

O meu cachorro deu para caçar fantasmas. Ele passa horas com a atividade. Por vezes, pára completamente de se mover e apenas acompanha os fantasmas com os cantos dos olhos, como que para não afugentá-los. Isso pode durar dez, quinze minutos. Ele fica ali, parado, no meio da sala, apenas relanceando olhares para o alto, para baixo, para os lados. De repente, ele salta e abocanha alguma coisa. Nunca sei se ele pegou algum fantasma, posto que uma das características mais intrigantes dos fantasmas é a sua invisibilidade. Imagino que, às vezes, pega sim, mas os fantasmas, por se tratarem de seres altamente volúveis, devem murchar mais ou menos como as bexigas, causando uma certa decepção no meu cãozinho que, quando se vê sem nada na boca, enfia o rabo entre as pernas e volta às suas atividades normais de cachorro, como comer, espreguiçar-se ou latir para os vizinhos.

Mas, às vezes, os fantasmas são mais ariscos e escapam de verdade. E aí o meu cãozinho, sempre muito calmo e preguiçoso, transforma-se num terrível predador, talvez se lembrando de seus tempos ancestrais, quando vivia em florestas e descampados africanos, farejando antílopes feridos. O animalzinho transfigura-se e começa a saltar de um sofá para outro, para a mesa de centro, para as mesas de canto e finalmente pula para o chão novamente, tentando abocanhar alguma coisa que, para nós, humanos, aparentemente é apenas ar. Nesses momentos, nada pode deter esse pequeno ser em fúria, que vai deixando um rastro de destruição por onde passa, espalhando os controles remotos por toda sala, derrubando vasos, espalhando a ração pelo tapete e coisas assim - tudo em questão de segundos, após os quais ele - depois de uma última abocanhada num provável restinho de ectoplasma - volta a se deitar ao lado do sofá para assistir um pouco de televisão com a família, como se nada tivesse acontecido.

Já levamos o cachorrinho para um veterinário, para nos certificarmos de que se não se trata de alguma doença degenerativa cerebral ou coisa que o valha, mas o médico, após inúmeros exames, disse que meu cachorro tem, provavelmente, mais saúde que eu - opinião da qual, sinceramente, não duvido.

Restou-nos, então, apenas acreditar na hipótese das almas penadas e aguardar que o nosso pobre animalzinho de estimação aprenda logo a conviver com seus fantasmas - assim como nós, com o tempo, aprendemos a viver com os nossos.

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