Não fui ver o Papa. Faltou disposição para encarar a multidão que tomou conta da Praça da Sé. Mas acompanhei os noticiários. E confesso que me emocionei com a visita do Pontífice. Sou católico. Religioso. Natural que me identifique com o significado deste evento. Eu confesso. Não aceitei bem o início deste pontificado. Quando nasci o Papa já era aquele. João Paulo II. Cara de Papa, jeito de Papa, voz de Papa. Como assim agora o Papa é outro? É como se depois da morte da Lady Diana tivessem escolhido outra Lady Diana. Sobe uma fumacinha na chaminé do Palácio de Buckingham e um mensageiro anuncia: "Estão vendo essa ruivinha? Então, ela é a nova Lady Diana". O povo passa a amá-la como amava a loira e bola pra frente! Bento XVI não deixou a desejar. Ficou bem no papamóvel. Foi simpático. Amável. Pude entender que Ratzinger não é a celebridade. O cargo é a celebridade. Qualquer velhinho que vestir aquela roupa será aclamado mundo afora. Declarações e humorismo à parte, um fato me preocupou. O Papa condena o uso da camisinha. Apóia-se no argumento de que, se o sexo deve ser praticado apenas por cônjuges fiéis, o acessório é dispensável. E coloca o preservativo como símbolo de pecado. Não entro na discussão moral. Não condeno o sexo antes casamento. E também não condeno aqueles que preservam a virgindade. Entendo o lado da Igreja e as declarações de Bento XVI. Defender as tradições da instituição que representa é papel de qualquer líder. O que me assusta é o desvio de foco. O problema não é a camisinha. O problema é a banalização do sexo. Condenar o uso do preservativo é combater a conseqüência, não a causa. A televisão tem uma força brutal. O telejornalismo, para muitos, é o único meio de informação acessível. Ir ao Jornal Nacional e fazer campanha contra a camisinha é uma irresponsabilidade. É ignorar a realidade do terceiro mundo. É se esforçar erroneamente para propagar uma tradição gasta e desrespeitada há gerações. Se o sexo hoje está banalizado, é porque as relações estão banalizadas. As pessoas temem o compromisso. Temem a frustração. E se cansaram de tentar. Descartam uns aos outros e se afundam na solidão. Mensagens contra a camisinha são vazias. Superficiais. O que precisamos é de mensagens de amor e, principalmente, de esperança. Esperança de tempos melhores, de homens e mulheres melhores. De confiança. De laço. De afeto. Não fiquei com nenhuma frase de Bento XVI na cabeça. Mas nunca vou esquecer do sorriso que acenou para aquele povo na janela do Mosteiro. Nota do Editor: Leandro Barbieri é roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu Retrato da Lapa (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e Umas & Outras (a primeira novela da Internet), as quais também dirigiu em parceria com Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da webnovela Alô Alô Mulheres na allTV, onde é diretor do núcleo de dramaturgia.
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