- É aqui que fai tatuage? - Ô se é. Vamo entrando, sô. Nói fai e fai prumódi deixa o criente satisfeito que só vendo. Dondé que vai querê as picada, seu moço? - Tô achando que no ombro fica mió. - Por mim pode sê até nas parte baixa, é a gosto do fregueis. Mai gerarmente os barbado prefere no braço e as muié no tornozelo ou na nuca. Deixa eu pegá o mostruário com os desenho procê oiá. - Tá bão. - Ói só que beleza. Tem figura pra mai de metro. Saci Pererê, Cuca, Lobisómi, Boitatá, Curupira, Mula sem Cabeça, tem um sortimento variado. Aqui é a seção das drupa caipira. Nói tem Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Pena Branca e Xavantinho, Cascatinha e Nhana... - Não tem drupa mai moderna? Esses aí é tudo véio, tem uns que já bateu com as bota fai tempo. - O pobrema é que eu num trabaio com drupa moderna prumódi que daqui a poco ninguém mai lembra quem é, daí a tatuage tá feita e a pessoa vai querê tirá. Aí já viu, tatoo é pra vida intera. Essas dupra de hoje, vou falá uma coisa, só se for decarque de chicrete, que sai no banho. - Mai é certeza que a tatuage que ocê fai não sai nunca mai? - Pode fazê o que fô - entrá no riberão, esfregá com bucha, passá arco que não sai nem que a vaca tussa. - Memo com a lida na roça, adispois de carpi e ficá suado? - Eu agaranto. Óia só esse Chico Bento, vai ficá bunitão aí no seu braço. Já imaginô ocê na quermesse, disfilano pra cima e pra baxo com essa tatoo lindona? Vai abafá, rapai. - Bão tamém... - Tem os que gosta dos desenho mais radicar. A fia do Nhô Nerso mandô tatuá essa cavera aqui, tá vendo. - Hum, sei. Parece aqueis aviso de veneno que tem nos saco de adubo. - Entonce, é memo. O pessoar comenta que adispois que a minina tatuou a cavera o padre Neco não deixou mai ela entrá na igreja. - Vixe, jura? - É, mai aí a curpa não é minha. A moça é di maior, quis fazê e eu fiz, uai. Cada um é cada um, tá certo? Esses aqui tamem, cê pode escoiê à vontade. Enxada, trator, porco no chiquero, boizinho no currar, pato na lagoa, pangaré, cobra no mei do mato... - E se eu quisé trazê o retrato de arguém, ocê fai iguar a fotografia? - Nói fai sim, mai aí vareia o preço. Anteonte apareceu um hómi aqui com um retrato dum conjunto chamado Os Bito, não sei se cê conhece. - Já ouvi falá. - Pois entonce, aí no caso era quatro figura pra tatuá, tivemo que tratá um preço especiar purquê deu cansera pra fazê. Trei dia e trei noite. Ah, esqueci de falá procê que agora nói tá diversificano as tatoo, com uns motivo cológico e vegetariano. Nói tatua pé di mio, bacatero, cafezar, laranjera, abeia fazeno mér, vô mostrá procê vê. - Óia, nem pricisa. Não carece se preocupá. Gostei dimai da conta dessa violinha. Quanto é que é pra fazê essa aqui? - Essa aí eu cobro dois saco de feijão. Mas procê virá fregueis eu faço por cinco pé de arface. - Falô e dizeu. Mai só que eu tô sem arface no borso, posso trazê dispois? - Craro. Não tem pressa, uma hora que ocê vié de charrete pra cidade ocê acerta. - E as agúia, é limpa? - Ô rapai, quê isso. Tudo agúia descartáve. - Então vamo lá, Jeca. Pó fazê o serviço. - Baixa as carça. - Mai eu falei que era no ombro! - Ô rapai, tinha isquicido...
Nota do Editor: Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário em Campinas (SP), beatlemaníaco empedernido e adora livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. É colaborador do jornal O Municipio, de São João da Boa Vista, e tem coluna em diversas revistas eletrônicas.
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