A divulgação dos números sobre a economia do Brasil deixa o mercado financeiro alvoroçado e cria um clima positivo para os negócios. A combinação de fatores econômicos mundiais e o aperto fiscal brasileiro, junto com uma alta taxa de juros interna, provoca todos os efeitos contidos na Teoria dos Vasos Comunicantes. Se o dinheiro externo é bem remunerado, seja pela especulação na Bolsa de Valores, seja nos bancos brasileiros, é óbvio que o mesmo venha para cá, ainda mais com o dólar em queda em todos os mercados financeiros do mundo. O ingresso de dólares faz com que o real se valorize, ou seja, o custo do dólar cai a níveis de matar saudades. O Banco Central aproveita então, e promove compras no mercado, amenizando as quedas, reforçando o caixa das divisas externas, criando um saldo nunca antes visto. É evidente que juros altos, caixa em dólares alto - cerca de US$ 125 bilhões - e saldo em contas correntes em torno de US$ 40 bilhões, cria um ambiente favorável para atração de investidores e especuladores. As exportações também estão em alta por uma série de outros fatores, começando pela fraqueza do mercado interno e pela demanda do mercado externo. Não é à toa que, além das exportações, um grupo de grandes empresas esteja investindo na geração de multinacionais brasileiras em vários lugares do mundo, da China aos Estados Unidos. No ano passado, US$ 37 bilhões saíram do Brasil para serem investidos lá fora. Essa combinação de fatos pode ter sido uma grande sorte que o Brasil teve, demonstrando um dinamismo da economia que fez até mesmo antigos nacionalistas de ambos os lados ideológicos reverem suas posições. Não há dúvida de que a globalização é a grande causadora dessas transformações ocorridas no Brasil. Aliás, diga-se de passagem, esse fluxo de mudanças conjunturais do ponto de vista econômico, mesmo que ainda em nível macro, ajudarão e muito, em criar uma nova mentalidade - até o presidente Lula está com discurso diferente, reconhecendo, em sua entrevista coletiva, que errou em colocar a culpa dos problemas brasileiros nos EUA, no FMI e tantos outros externos, e que todos devemos olhar para "o nosso umbigo" e ver que nós é que temos que nos transformar. Mas esse sucesso macroeconômico já está provocando o desnudamento do Brasil diante do próprio Brasil, finalmente. A reclamação dos empresários em relação a perda de competitividade diante dos mercados mundiais em face da desvalorização do dólar é justa, embora focada em câmbio. O problema não está no câmbio e sim, no Custo Brasil. E este é recheado de problemas - encargos trabalhistas, carga tributária, burocracia absurdamente excessiva, infra-estrutura de transporte deficiente, regulamentos excessivos, instabilidade legal, insegurança jurídica, falta de mão-de-obra qualificada, com baixo nível de escolarização e alto nível de analfabetismo funcional - só para citar os mais evidentes. A solução destes problemas será bem mais complexa, difícil, senão impossível, sem um redesenho do modelo de organização do Brasil. A solução possível não passa apenas por reformas que nunca saem do Congresso e se saírem, serão distorcidas ou mais concentradoras de poder e recursos do pseudo-federalismo tupiniquim. A solução possível passa pela descentralização objetiva dos poderes, recursos e decisões, deixando para os estados e municípios todas as atribuições que não cabem à União. O Presidente Lula teria então, muito mais tempo e energia para suas preocupações com países pobres da América do Sul e da África... "É natural que os governadores briguem por mais dinheiro para seus estados" afirmou o Presidente Lula na citada entrevista, mas poucos percebem a insanidade do modelo centralizador que a afirmação encerra. Seria mais correto e aí sim, natural, que os governadores se preocupassem cada um com seus respectivos estados, sem ter que pedir nada ao Governo Federal. Quem sabe, com o desnudamento dos problemas brasileiros, expostos pela necessidade de se globalizar - logo, com nova classificação positiva no rating das agências internacionais de avaliação de risco, o dólar poderá chegar a 1 por 1 - incentivado cada vez mais pelo sucesso macroeconômico, chegue o momento da criação da nova pauta que o Brasil precisa adotar, que é sobre seu modelo de (des)organização interna. Nota do Editor: Thomas Korontai é agente oficial e consultor especializado em propriedade industrial (www.komarca.com.br), autor de centenas de artigos sobre propriedade intelectual, federalismo e comportamento, publicados em diversos jornais e revistas. Foi fundador e líder de diversas entidades e movimentos, e autor de ações populares de nível federal. Autor dos livros Brasil Confederação (1993 download gratuito em www.federalista.org.br), É Coisa de Maluco...? (1998) e Cara Nova Para o Brasil - Uma Nova Constituição para Uma Nova Federação, a ser lançado em breve. Propõe o federalismo pleno das autonomias estaduais e municipais desde 1991. Fundador e Presidente Nacional do Partido Federalista (em formação) e Presidente do IF Brasil - Instituto Federalista - www.if.org.br -. Reside em Curitiba/PR.
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