Tenho amigos que, por conta dos seus afazeres, vivem viajando mundo afora. Não são turistas acidentais. Viajam com olhos para ver o "sentimento de mundo", captam nuances nos contatos com seus iguais e o povo. Reconhecem, entristecidos, que nós, brasileiros, salvo exceções, somos ainda muito pouco educados, cordiais e incultos em nossos contatos e relacionamentos. Por questões até de sobrevivência, cultivamos hábitos que não passam pela polidez, gentileza com o outro, respeito ao trânsito e aos imóveis públicos e privados. Em qualquer cidade brasileira, do Oiapoque ao Chui, fácil é constatar a ausência de delicadeza no gesto das pessoas em contato com semelhantes ou, por exemplo, na intimidade dos banheiros. De princípio, eram apenas os homens os indelicados. Hoje, por terem jornadas duplas, as mulheres estão entrando no time dos que não primam pelo cuidado no falar, na gentileza de ouvir e na capacidade de entender a diversidade, essa realidade que distingue as pessoas, mas que, paradoxalmente, as nivela. Recentemente, uma pessoa me contou que ao guiar no estrangeiro foi abordada por um policial de trânsito "pelo simples fato de ter mudado de faixa de direção". Ora, os sinais de trânsitos são internacionais e no país onde ela se encontrava ficam muitos claros. Ela havia, por força de hábito, cometido infração de trânsito comum em nosso país. Não nos incomodamos com os carros que vem atrás e apenas nos desviamos dos que cruzam à frente. É assim mesmo, acontece todo instante e isso faz com que acidentes entre veículos proliferem e impeçam a circulação ideal por conta de perícias que tardam. Falta-nos civilidade. Houve um tempo em que se estudava civilidade nas escolas. Lembro que a edição do livro era F.T.D. Hoje, certamente, isso pode ser considerado perda de tempo, mas não é. Dizia Mark Twain que "a gente não se liberta de um hábito, atirando-o pela janela. É preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau". Isto vale para o trânsito, para as escadas da prepotência, para a bisbilhotice da vida alheia e ao desrespeito pelos direitos dos outros. É básico. É civilidade.
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