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Opinião
26/05/2007 - 07h36
Hegemonia cultural
Ipojuca Pontes - MSM
 

Nos dias 10 e 11 de maio participei, no Rio de Janeiro, de um simpósio sobre o "Panorama Político-ideológico atual e perspectivas para o futuro", organizado pelo Farol da Democracia Representativa, entidade interessada em diagnosticar a hegemonia esquerdista na vida intelectual brasileira e promover o conhecimento da liberal democracia e a disseminação do saber da civilização ocidental fundada na tradição judaico-cristã.

No simpósio, que contou com a presença de estudiosos que se voltam para o exame da democracia liberal - entre os quais destaco o General Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, decodificador primoroso da obra de Gramsci para não iniciados, o psicanalista e articulista do site Mídia Sem Máscara Heitor De Paola, o professor de física Raphael Dias Martins De Paola e o filósofo Olavo de Carvalho -, me coube falar sobre como as esquerdas tomaram conta das instituições culturais do país, de modo aparentemente irreversível, pelo menos durante as próximas três décadas.

Como não poderia deixar de ser, antes de destacar o papel da Escola de Frankfurt e da ação do intelectual "orgânico" de Gramsci no processo da hegemonia cultural da esquerda dentro e fora do aparelho do Estado, comecei por mencionar a ação de Andrei Jdanov, o mentor da política cultural da União Soviética na Era Stalin. Ele se destacou, nos anos 30 e 40, como porta-voz do Realismo Socialista, a doutrina cultural que tem por objetivo comprometer a criação artística com a transformação ideológica e a educação dos trabalhadores para a formação do "espírito socialista das massas".

Em seguida, enumerei as regras traçadas pelo djanovismo quanto à teoria e prática do Realismo Socialista que consiste, basicamente, em: 1) considerar a classe operária como o agente histórico da transformação universal; 2) direcionar o sentido da criação artística para promoção da luta de classe; 3) enaltecer, em todas as manifestações artísticas, a prevalência do herói "positivo" sobre o herói "negativo" - este, entendido como o herói "burguês" inimigo da formação da sociedade socialista que deve ser "odiado"; 4) banir da arte em geral qualquer forma de ambigüidade, ironia, subjetivismo, abstração ou formalismo - valores comprometidos com a arte burguesa, viciada e decadente; 5) excluir da vida artística qualquer manifestação do pensamento a serviço do diversionismo ideológico, pois o partido é o grande intelectual e o detentor da verdade.

Na linha da implantação do socialismo e do pensamento marxista-leninista em todo mundo, ressaltei a importância da instalação em 1947 da Conferência de Slarszka-Poreba, na Polônia, quando foi criado o Comitê de Informação dos Partidos Comunistas, o Kominform, cujo objetivo era fomentar o avanço do comunismo e promover a divulgação de material de propaganda para o combate contra as forças do imperialismo.

O resultado final da conferência da Polônia foi a distribuição, entre os diversos lideres dos PCs ali presentes, do Relatório de Setembro, documento estratégico que convocava artistas e intelectuais para denunciar os Estados Unidos como uma "potência imperialista no campo ideológico, político e militar", que deveria ser combatida como "inimiga da paz e uma ameaça às posições mundiais do socialismo".

Na alvorada da polarização da Guerra Fria, os intelectuais e simpatizantes comunistas dos cinco continentes receberam como tarefa fundamental identificar por todos os meios o bloco da União Soviética e suas repúblicas populares como uma "coligação das forças progressistas a serviço do bem". Já os Estados Unidos e aliados do imperialismo, segundo a cartilha djanovista, deveriam ser execrados como uma "conjugação de forças anti-democráticas a tramar uma nova guerra anti-soviética".

Em essência, ressaltei um dado crítico fundamental, mais tarde levado em conta por Gramsci, Adorno, Horkheimer e Habermas, os três últimos integrantes da Escola de Frankfurt: sem que o grosso da humanidade tivesse consciência da inviabilidade econômica do socialismo, a expansão do pensamento esquerdista em todo mundo (especialmente entre os militantes da área cultural) se dava substancialmente a partir de uma falácia: a denúncia do capitalismo que, segundo o visionário Karl Marx, era o "agente explorador da mais-valia e responsável pela alienação do processo produtivo". Aos participantes do Simpósio reafirmei que, no Brasil, bem antes da ação devastadora do "pensamento crítico" da Escola de Frankfurt e da vigência da estratégia gramscista de assalto ao poder pela "guerra de posição", o que alimentava a criação das "condições objetivas" para se chegar ao poder era a disseminação - entre intelectuais, professores e artistas, etc. - das regras estabelecidas pelo Relatório de Setembro, de natureza puramente marxista-leninista.

De fato, durante o período da Guerra Fria, a suma ideológica do djanovismo foi adotada como artigo de fé pelos dirigentes do PCB e levada às últimas conseqüências pelos intelectuais militantes, à época em número inexpressivo se comparada à militância de hoje. Nos campos de batalha da literatura, música, cinema, ensino, jornalismo, por exemplo, militantes como Jorge Amado, Dalcídio Jurandir, Álvaro Moreira, Rossine Camargo Guarnieri, Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany (codinome de Almiro Fialho), Rui Santos, Oswaldo Peralva, Astrogildo Pereira e Moacir Werneck de Castro assumiram a postura de autênticos "comissários do povo", todos instrumentalizados pelas lições stalinistas e voltados para o combate às mazelas do "imperialismo ianque". O ouro, para a consecução da tenebrosa tarefa, como ficou claro depois, vinha de Moscou.

Mas para comentar sobre ouro, dinheiro e estratégias para se estabelecer a hegemonia cultural das esquerdas no Brasil, mormente para inocular o vírus do "pensamento crítico" da Escola de Frankfurt e do epistolário gramsciano em todos os espaços possíveis, retorno na próxima semana.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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