Manhã, que ao perder o til se chama manha, e com o frio que chega traduz perfeitamente o estado de coisas aqui e agora. Acordar com as galinhas. Escuto isso há muito tempo e me lembro sempre ao levantar cedo e passar um café. Gosto de ser o primeiro a acordar aqui em casa. Às vezes, antes das crianças irem para a escola. Um hábito adquirido com o passar do tempo. É ótimo não ter nada de imediato para fazer. Assim posso parar e pensar em algo mais importante – como a inevitável mudança de endereço que se aproxima ou a chegada da aposentadoria. Os filhos crescidos, o resto de vida que restar para viver, e algum trocado para dar garantia. Ou quem sabe fazer ginástica. Puxa, poderia andar meia hora de esteira, queimar umas calorias... Faz bem ao coração, alivia a consciência e também é ótimo para exercitar a mente com uma boa leitura. Mas tantos predicados só fazem me tornar pior. Eu sei que não vou encarar a esteira. Dormir mais um pouco? Não, não posso. Seria difícil depois recuperar o pique, tenho trabalho hoje. Tantos anos e não perco esse cacoete! Aquele soninho complementar, assim depois de tomar o café... é muito bom. Mas hoje não dá, definitivamente. Ôpa! Oito horas e nove minutos. Dentro de instantes, esse que vos fala estará irremediavelmente andando de um lado para o outro, falando pelos cotovelos, resolvendo uma série de questões relacionadas... ah, vocês sabem. Trabalho, como quase todo dia. Ainda bem, assim posso de certa forma levar adiante os projetos, continuar com os sonhos. Gosto do que faço, mesmo com as mazelas. Mas por enquanto, elas não me perturbam porque ainda estão dormindo. Nota do Editor: Marcos Alves é jornalista e diretor de vídeos.
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