As palavras saem da idéia do autor. Podem ser norteadores vindo de seus sonhos. Seguem sem destino pelo papel virtual, mesmo que a sina consiste em coisa nula. O escritor deve escrever para transformar e usa da letra como um guia. Como os passos dos pedestres em uma avenida movimentada. O asfalto se torna folha para registrar as pegadas dos apressados, dos insetos que fazem seu trabalho em pleno caos cinza, a marca da boneca arrastada pela menina sapeca. Letra, eco, sílaba. As palavras ganham força de acordo com o devaneio que sentimos; as situações que passamos, os medos que superamos. E subimos uma ladeira de esperança, escalamos montanhas de adversidades. Dia desses, numa livraria, a conversa entre senhoras chamou a atenção: uma delas disse que palavras não dão dinheiro. A outra retrucou que palavras alimentam sonhos. Podem preencher o vazio do âmago; pode ser que não encham o vazio dos bolsos. Mas abalam alguma estrutura da vida rígida que temos. As palavras, em qualquer formato de expressão, são praticamente tudo. Mas, também, principalmente se mal usadas, podem ser nada. Vira até artilharia. As circunstâncias da utilização das palavras, que não tem manual de instrução, levam à destruição. Muitos querem que as palavras consumam-se, as mais ácidas, bem como as mais belas. Basta perguntar ao desafeto e ao apaixonado. Cada qual responderá conforme receberam o infinito de frases. Refletir sobre o que ouvimos, também, é empreitada árdua e áspera. Absorver e deglutir um alimento raro. Temos tempo e preparo para tal tarefa? O escritor quer que o asfalto das palavras recheie o universo. Mude um pouco a mesmice; como aquela borboleta que pousa sobre o grosso do prédio em construção. Como as palavras singelas que agora repousam na mente do leitor. Nota do Editor: Keli Vasconcelos é jornalista de São Paulo - Capital. Já atuou em rádio, assessoria de imprensa, editora e revistas. Realiza trabalhos como freelancer e luta por oportunidades.
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