Eu pretendia fazer uma consideração mais profunda sobre a tentativa (já frustrada?) do Lula de remunerar alunos que passarem à 8ª série. Por enquanto me animo a escrever umas poucas linhas. De início, entretanto, é de se salientar como a idéia de jumento do Supremo Apedeuta foi abafada tão rapidamente pelos próprios professores, pelo menos na mídia. A mim pareceu que ela tinha cara de confissão, de rendição assinada, de reconhecimento da mais absoluta falência da Educação no Brasil. Nunca o Presidente dos Tolos foi tão infeliz com uma frase-idéia como essa. Nem o aborto, que ele agora diz não apoiar, foi tão inoportuno e indelicado de dizer. Lula deu o maior tapa na cara que o professorado brasileiro já recebeu em toda a sua história. Ameaçar tornar o professorado agente pagador de uma propina ideológica e demagógica de duzentos reais, fazendo dos professores e das professoras correios da diligência lulista, é um insulto grave à inteligentzia brasileira, e até à própria burritzia brasileira mais vaidosa e cúmplice. Nem esta merecia tanto. E, de quebra, ainda há o caráter safado dessa medida que exporia os professores a grave risco de vida. É deles que partiriam os critérios de remuneração e não-remuneração. Os professores dessas séries, se aprovada essa burrice, teriam poder remunerante. É assim que eles seriam vistos pelos alunos, enfatize-se, cada vez mais selvagens nas salas de aula. Assaltariam o que eles pensam ser a diligência do ouro. Os professores seriam ameaçados e chantageados, e por meios violentos, por alunos e seus pais, o que, aliás, já acontece. Principalmente, os conflitos gerados por essa distinção tomariam inevitáveis contornos jurídicos, com os terríveis e abomináveis Conselhos Tutelares sendo chamados a todo o momento para impor o delírio lulista a vítimas já esgotadas com tanta humilhação. A idéia é catastrófica sob todos os ângulos. O pior, porém, é o relaxamento moral completo; o mérito, já desmoralizado pela educação socialista, seria totalmente desacreditado. Vocês já pararam para imaginar que classe de alunos teríamos? E que conflito é esse? Ora, ela é ou seria uma legítima luta de classes dos sonhos dos comunistas de Lula e sua caterva. Essa idéia talvez não seja apenas idiota, ela pode ser também maligna: a instituição da luta de classes entre alunos, remunerados contra os não-remunerados, sob um critério que somente os professores podem adotar, geraria uma dissonância cognitiva brutal na sociedade jovem (mais do que ela já sofre), comprometendo irremediavelmente o nosso futuro. Isso desnortearia os já não tão brilhantes alunos brasileiros, e ainda produziria uma inversão brutal e contraditória na propaganda de um governo que prega o relaxo dos costumes acreditando que faz o besteirol da “Justiça Social”. O efeito dissolvente sobre a agregação social atrapalharia ao próprio governo e sua ideologia emburrecedora. A vitimização de alunos cresceria aos olhos dos psicólogos que fazem a vontade do politicamente correto e do regime – haveria uma gritaria contra a perda intolerável da auto-estima dos pobrezinhos dos alunos discriminados, reforçando assim a cadeia ideológica do coitadismo debilóide (créditos a José Dacanal) do aluno que não estuda, nem a isso é cobrado; o professor que nada ensina, mas pode pagar a incompetência; e o Estado chantagista comprador de dignidades. Por último, o povo brasileiro foi ficando burro acreditando que a escola é uma mesa de almoço e um refúgio seguro para a marginália juvenil protegidos pela mesma espécie de lei que dá mole para a bandidagem na cadeia. Pois agora está sendo convidado a pensar na escola como guichê do Estado, como uma banca; como uma oferta fácil e negociável de dinheiro para vários fins: o comércio, o lazer, algum vício, e que deixaria uma insofismável e infeliz certeza de que a Educação se prostituiu finalmente. A educação brasileira é o burro sacrificial no altar sagrado da ignorância ungida. Lula é apenas sua vestal mais sensual e erótica. Mas para ser completamente justo eu deveria lembrar que nesse altar da deusa burritzia e da sem-vergonhice está a vestal mais culta que a República já teve: FHC. Ninguém, nem mesmo Lula, conseguiria destruir a Educação sem o concurso dessa Tarpéia. Nota do Editor: Carlos Alberto Reis Lima é médico e escritor.
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