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SEÇÃO
Crônicas
03/06/2007 - 17h03
Piano e música
João Soares Neto - Agência Carta Maior
 

Sábado desses, meio sem fazer nada, fui ter a um restaurante. Pequeno, sem badalações, comida e bebida honestas, toalhas engomadas, espaços internos divididos, garçons simpáticos e um piano, fechado. Imaginei-o tocando, com um desses pianistas que já rodou a cidade inteira e que estaria ali mais pela sobrevivência do que pela arte. Acontece que o piano ficava do meu lado e só depois que me sentei é que o pianista chegou: começou tocando blues. Tinha a idade dos maduros, a cor do cansaço das noites e o gesto delicado de quem sabe mais do que arrumar as sete notas. Era um artista, cansado que fosse.

Como disse, ele não estava ali por arte, mas a arte estava nele, mesmo que a mera sobrevivência o tivesse levado até ali. Pedi para tocar dez músicas, entre elas: “Smile, Se a gente grande soubesse, The shadow of your smile, Águas de março, Unforgettable, Besame mucho, Samba do avião e Rapsódia in Blue”. Sabia tocar todas e o fez de forma dorida, harmoniosa e talvez com ouvidos e olhos esperando a minha reação.

E entre uma música e outra me vi mexendo em sentimentos, lembrando porque e quem me lembrava cada uma dessas canções e qual a razão, se é que música precisa de razão, de eu misturar, compositores como: Charles Chaplin, Billy Blanco, Johnny Mandel, Tom Jobim, Consuelo Velásquez e Ira e George Gershwin, diferentes em suas naturezas, escolas, países de origem, mas atrelados pela capacidade de criar enlevo, dizer de amores, ajustar harmonia e melodia ao ouvido de um confesso leigo como eu.

E me vi tomando vinho, não como enólogo, mas um tão simples quanto o momento, safra mediana, vermelho como o sangue que me corre nas veias, não tão frio que mudasse as minhas analfabetas papilas gustativas, mas que ia sorvendo, gole a gole, sem entorpecer sentidos, aguçando a memória, esse auto-gravador a nos acompanhar que, vez por outra, desembucha sem pedir licença. E ao final das músicas, absorto estava em meu pensar vário e o quis trazer à realidade, mas ele teimava em ser etéreo, misturar épocas, pessoas e emoções, e não vi que o vinho acabara. Smile, sempre.

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