...xingue os políticos e desligue a TV
Tem domingo que eu não quero fazer nada. Não adianta os amigos ficarem chamando para festas, que eu não vou. Teve algumas poucas vezes que eu até me arrependi da decisão, é verdade. Na segunda-feira, os amigos, aqueles que foram nas festas, sempre chegam para gente contando das maravilhas que tinha pra comer, beber e tudo o mais. É engraçado esse negócio também. Invariavelmente, as melhores festas são aquelas que a gente não foi. Quando a gente vai, é sempre aquela lengalenga de sempre, um churrasquinho, umas cervejas mornas e olhe lá. Mas quando a gente não vai, a carne estava maravilhosa, a cerveja estupidamente gelada e aquele molho que a fulana outra trouxe, então? você precisa experimentar, uma delícia, e depois a gente jogou uma bolinha, foi muito gostoso mesmo, uma das melhores festas que a turma já fez. Aí a gente se anima e resolve ir na próxima e, chega lá, e é tudo a mesma porcaria de sempre. Um monte de homem bêbado numa rodinha, as mulheres do outro lado falando mal dos maridos, e as crianças lá longe arrumando alguma coisa para se machucarem. Então, tem domingo, que eu me recuso terminantemente a sair de casa. Não saio nem pra comprar pão na padaria, lugar perigosíssimo para quem pretende ficar em casa, já que a gente sempre encontra alguém tomando uma cerveja e que está maluco pra lhe contar a última piada sobre louras, sobre veados, sobre pretos, sobre portugueses ou outra minoria qualquer. E, depois das piadas, eles começam a falar dos problemas financeiros do país, a falar mal do governo, e a conversa acaba se alongando e, quando a gente vê, lá se foi o nosso domingo. Então, tem domingo que eu não vou nem na padaria. Fico em casa, curtindo as maravilhosas alternativas que só o ócio absoluto é capaz de oferecer. Não restam dúvidas, também, que ninguém consegue passar vinte e quatro horas seguidas num ócio absoluto e, uma hora ou outra, a gente sente a necessidade de fazer alguma coisa. A mais fácil delas é se sentar na frente da televisão e ficar trocando de canal, atividade que acaba nos levando a pensamentos perigosos, como, por exemplo, dar uma certa razão ao Hugo Chávez que, ultimamente, deu para desligar as TV’s e para xingar o Congresso brasileiro. Também não vou aqui falar que ele está com a razão, mas, para ser sincero, já passei muitos domingos fazendo a mesma coisa. E foi uma delícia, você precisa experimentar um dia.
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