O bom da música popular, dizia muitos anos atrás um cavalheiro que abominava o gênero, é que ela não fica popular por muito tempo: a um hit segue-se outro, logo outro mais, e assim até o fim dos tempos. Na mídia, é a mesma coisa: o megaescândalo de hoje, que transborda das manchetes para páginas e mais páginas dos jornais do dia, amanhã será outro, com o mesmo tratamento, e outro ainda depois de amanhã, na mesma base. Quando adentrou a imprensa, cortando a torto e a direito, do velho pefelê ao PT da "ética ponderada", a Operação Navalha foi equiparada ao escândalo dos sanguessugas, só que mais, muito mais. O prazo de validade das travessuras do empreiteiro Zuleido no noticiário durou coisa de uma semana. A partir da sexta-feira, 26 de maio, quando uma edição antecipada da Veja pôs na berlinda as ligações perigosas do presidente do Senado, Renan Calheiros, a navalha, tendo perdido o fio, foi lançada ao entulho dos assuntos que "já eram", no entender das redações. A história se repete agora com o xeque-mate da Polícia Federal contra a máfia dos caça-níqueis. Senador, lobista e ex-namorada vão para o cantinho das páginas dos jornais - onde agora se escarrapacham o irmão, o compadre e o batoteiro auto-declarado "muito amigo" do presidente Lula. O rodízio de escândalos, com sua abordagem jornalística que não muda nunca, acaba transformando tudo não numa pizza, mas numa papa, cujos ingredientes - nomes, relações, histórias, traficâncias, mentidos e desmentidos - o leitor já não consegue distinguir, muito menos saber se prestam. Mas não tem nada, não. The show must go on, como dizem os gringos. Aguardem a próxima atração.
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