Quer mexer com os brios da web? Levante a bola da utilidade. Nos dias que correm, da famosa Web 2.0 e a tão falada enxurrada de conteúdo gerado pelos usuários, a questão é ainda mais delicada. Existe, mesmo, a certeza de que sites já manjados, como o Flickr (que constrói galerias de fotos), e programas que ainda são novidade, como o Twitter (capaz de publicar minúsculas mensagens de texto em blogs, via celular), irão mudar a face da Rede e mexer definitivamente com o nosso dia-a-dia? Ninguém sabe. Aliás, como ninguém tinha certeza se a própria web havia chegado para ficar, há pouco mais de dez anos. Nem sempre novidade rima com utilidade - por mais que possa parecer. O fiel da balança? O tempo, sempre ele. O mais curioso é que não só o novo passa por esse "moedor de carne" - algumas tradições também são postas a xeque na web. O papel do editor, por exemplo. Bastião das outras mídias, ele agora é questionado. Afinal, se qualquer um pode publicar qualquer coisa na maior tranqüilidade e sem filtro, por que é preciso alguém para arrumar e polir o que foi produzido? Há quem, contudo, esteja indo contra a corrente. Esta semana foi lançado nos EUA o livro "The Cult of the Amateur: How Today’s Internet is Killing Our Culture" (em português, "O Culto ao Amador: Como a Internet de Hoje está Matando Nossa Cultura"). O autor, o americano Andrew Keen, pergunta aos leitores: "você deseja uma mídia sem editores?" Keen é bastante xiita em seus argumentos, mas vale como voz dissonante em meio a um mar de convicções mal embasadas, e que tem produzido o que eu chamo de "conteúdo jogado pelo Usuário", e ele de "user-generated nonsense" (algo como "tolices geradas pelo usuário"). O editor - seja de um veículo jornalístico ou não - é aquele que tem a palavra final da experiência para amarrar pontas, cortar sobras e corrigir imprecisões. Na web, em que a informação vai além do texto e multiplica-se em vídeos, músicas, podcasts, imagens e por aí vai, o editor é aquele que arruma a "bagunça" para que os usuários encontrem o que é realmente relevante, interessante e - voltamos ao início - útil. Em entrevista à edição deste mês da revista Bloggers & Podcasters, Andrew Keen explica por que defende a figura do editor. "O motivo pelo qual eu não publicaria meu livro direto em meu blog", diz ele, "é porque eu preciso da figura de um editor, é ele que faz meu amadorismo funcionar, e me faz escrever textos mais densos e coerentes". Eu fecho com o autor, já que arregaço as mangas sempre que necessário - afinal, alguém já viu um quarto de adolescente que não precise de uma "mãozinha" dos pais de vez em quando? ;-) E você, acredita mesmo que o editor está em extinção na Rede? Nota do Editor: Bruno Rodrigues é autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, "Webwriting - Pensando o texto para mídia digital", e de sua continuação, "Webwriting - Redação e Informação para a web". Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ’Webwriting’ do ’Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.
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