"Uma vida não examinada é uma vida indigna de ser vivida". (Sócrates) Confesso que fico deveras intrigado com a forma como algumas pessoas afirmam não ter apreço pela reflexão filosófica. Não que uma pessoa não tenha o direito de desgostar da scientia veritatis, não mesmo. Todavia, não há nada que ateste superioridade nesta opção. Aliás, somente entre os estultos que a auto-ignorância voluntária pode ser apresentado como atestado de superioridade moral. Bem, a Sagrada Escritura, com a Divinal sabedoria de suas Palavras, nos aconselha para que: "Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se julga sábio à maneira deste mundo, faça-se louco para tornar-se sábio, porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois (diz a Escritura) ele apanhará os sábios na sua própria astúcia [Jó 5:13]. E em outro lugar: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, e ele sabe que são vãos [Sl 93:11]. Portanto, ninguém ponha sua glória nos homens [Cor. 1 III: 18 - 21]". Ora, se correto estamos, estes senhores que acreditam tudo saber sem nada ponderar com a devida seriedade e que se autoproclamam auto-suficientes em seu (des)saber e que são tratados como doutos - por auto-bajulação ou pela vileza de bajuladores de carreira - são literalmente o símbolo da decadência da sociedade Ocidental. Seriam eles os ícones da baixeza do "último homem" nietzschiano. O que torna isso mais patente é o fato de estes senhores serem referência de grande e inegável sabedoria. Sabedoria de medalhão, de aparência, de fala macia, adocicada e melosa, como há de ser toda fala sem valia. Cansa a vista que, já há muito está cansada, diante desta displicente impostura onde picaretas que se fantasiam de mestres a fim de ganhar uns trocados explorando a boa fé de uns e a ignorância displicente de outros para, deste modo, com sua própria torpeza noética, possa manter multidões bestializadas em seu estado in natura de bestificação. Enfim, assim se faz a (des)educação em nossa Pátria que de anti-horizonte em anti-horizonte vai guiando a todos para a perdição de si através do entorpecimento da capacidade de conhecer. Conhecer. Um ato que perde toda sua perfeição, quando não parte do solo da humildade passa a preferir o duvidoso solo da arrogância, tal qual vemos por todos os lados nos dias atuais. E, se Platão estava correto, quando afirmava que o Ser seria o último na categoria do Conhecer, podemos afirmar, com tristeza, que a educação, literalmente está a perecer através das mãos daqueles que deveriam cultivá-la e, principalmente, preservá-la de nós mesmos que tão facilmente nos permitimos cair na fraqueza de desdenhá-la por fingirmos ser sábios e nos contentarmos com a ilusão que fragilmente acoberta nossa nescidade.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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