"We’re here. We’re queer. And we’re coming after your children" "Chegamos. Somos gays. E estamos atrás de suas crianças." (Cartaz de uma passeata do orgulho gay em Washington, 1993) Escrevo este artigo ouvindo o estridente som de trios elétricos do movimento gay que, vindos da Av. Paulista, têm como destino um local a 100 metros de minha casa. Essa não é a primeira vez e nem será a última em que penso dez vezes antes de sair de casa e acabo desistindo. Isso porque as ruas são fechadas para automóveis, só sendo permitido o espaço aos marmanjos e bichinhas que, ao som de "nós vamos invadir sua praia" já dão o seu aviso. Aliás, não é assim a democracia brasileira? Qualquer grupo que se organize em torno de qualquer pretexto tem o direito de invadir sua praia? O rapaz, do alto de um dos trios elétricos, grita excitadíssimo: "Atrás de nós há 21 outros trios elétricos! Somos a maior parada gay do mundo!!!" É claro, o que ele quer dizer não é nada disso. Na verdade, o que ele quer dizer mesmo é: - Que são uma minoria perseguida e marginalizada, que não possuem as mínimas condições de se expressar politicamente; - Que são milhões de sofredores pois essa sociedade patriarcal, homofóbica e reacionária os impede de se expressar como são; - Que o que eles querem não é chamar a atenção, é simplesmente nos mostrar que eles são como nós e que, se eles se vestem como faunos, índios apaches, sadomasoquistas, borracheiros de mentira, é porque a culpa é nossa e essas fantasias são as imagens caricatas de nossos desejos inconfessáveis; - Que se eles se drogam e se suicidam, é ainda porque não são enxergados e para viver assim, melhor mesmo é dar cabo de vez do sofrimento; - Que se fazem essa festa de 3 milhões de pessoas, é apenas um dia de alegria em 364 de injustiças e dores (sem contar os anos bissextos, oh!), causados por nós, os assassinos de gays, que os massacramos aos milhões, se não fisicamente ao menos psicologicamente. Se não psicologicamente, ao menos socialmente. E assim por diante, oras! - Que se uns 70% da elite da classe artística e cultural seja formada e dirigida por gays e simpatizantes, ainda assim não é suficiente. E os outros milhões sem representatividade de "gênero"? Quando olho aquele trio elétrico de sindicato, não dá para não enxergar o famigerado slogan "companheiros gays, lésbicas, transgêneros, transexuais e genéricos de todo o mundo: Uní-vos!" Mas logo me lembro que massa é massa, seja ela de trabalhadores, de estudantes, de gays, de negros, de homens, de mulheres etc. E de combinações desses. E há líderes e liderados. E há promessas de paraísos terrestres. E a parada continua, com os batidíssimos hits da disco dance como Village People, Gloria Gaynor, Donna Summer, Communards e é claro, a rainha dos baixinhos, Xuxa. Todos os anos é assim. Minha esposa me pergunta: "são 18:00 horas, será que eles não vão parar por causa da missa na Igreja da Consolação?" Há algo nesse movimento que nunca será satisfeito. Por mais poder, reconhecimento, cargos e orgias intermináveis que possam conquistar.
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