Os papagaios, geralmente de coloração verde-amarela, e também conhecidos, em tupi-guarani, quando vermelhos, como aracangas, são aves da família dos psitacídeos que imitam razoavelmente a voz humana. Mas podem ser também pessoas que repetem inconscientemente o que ouvem ou lêem. Exatamente como o neoditador da Venezuela - psitacídeo amestrado pelo caquético ditador Fidel -, que ofendeu sem a menor cerimônia o Brasil, ao conferir ao nosso Congresso o atributo - equivocado, digamos de passagem - de caixa de ressonância dos Estados Unidos. Não é a primeira, nem a segunda e nem a terceira vez que o coronel canastrão e de idéias tão ultrapassadas que nos fazem pensar em Matusalém como um recém-nascido, se intromete em nossos assuntos. Só para refrescarmos a memória, lembremos que financiou a Unidos de Vila Isabel no carnaval do ano passado, com aquele enredo "bolivariano" que, aliás, venceu o desfile (será que houve "papagaiadas" entre os jurados, como as que aconteceram no carnaval deste ano?), que nas últimas eleições brasileiras cabalou votos para o "companheiro" Lula e que, entre dezenas de outros palpites infelizes, proporcionou aquele espetáculo tragicômico de sandices na reunião de janeiro deste ano no Rio de Janeiro, em que se consumou, ao se aceitar a Venezuela como membro, a morte anunciada do Mercosul. Ora, não se trata de defender a honra de nossos congressistas, já que qualquer brasileiro hoje sabe que fazê-lo seria como meter a mão em cumbuca cheia de serpentes: é verdade que há parlamentares dignos e honestos, mas basta estarmos vivos para sabermos que pululam no Congresso, infelizmente, não poucos ladrões, mensaleiros, sanguessugas, formadores de quadrilhas, adúlteros e assemelhados. Não se trata, tampouco, de descrever o comportamento do bufão que hoje domina nossos irmãos venezuelanos com mão de ferro - embora com cérebro formado por matéria menos nobre -, que simplesmente fechou a RCTV porque lhe fazia oposição e já havia demitido boa parte dos juízes de seu país, substituindo-os por outros ao seu feitio, nacionalizado empresas, privadas ou pertencentes a governos de outras nações, importado agentes da polícia política "democrática" de Fidel e manietado a constituição de seu país - que ele mesmo, por sinal, escreveu... Trata-se de indagar se a atitude de aparente tibieza com que o governo do Brasil vem respondendo a essas e outras provocações é mesmo tibieza ou um misto de esperança encolhida com solidariedade enrustida ao Foro de São Paulo, do qual todos foram signatários. Não é só a Aracanga de Caracas; outros psitacídeos de coloração igualmente vermelha e que também imitam o discurso do líder totalitário de Cuba, como os presidentes da Bolívia e do Equador, vêm impondo ao Brasil sucessivas perdas materiais e morais, sem que os responsáveis por nossa política externa apresentem respostas à altura do que deles esperam os brasileiros. Os sujeitos nacionalizam a Petrobras, aumentam o preço do gás natural, rompem contratos unilateralmente, intrometem-se inúmeras vezes em nossos assuntos e o que o Itamaraty faz? E o que responde nosso presidente, que também andou pedindo votos para Chávez? Se o Brasil aspirasse de fato a assumir a posição de líder regional a que tem direito, bastaria darmos um espirro um pouco mais forte para apavorar as aracangas que estão fazendo a América do Sul caminhar para trás! Mas não, o Itamaraty e a Assessoria de Assuntos Externos da Presidência não dizem nem sim, nem não e nem mesmo "muito pelo contrário". Tergiversam e enganam. Enganam mesmo? Até um aluno do município do Rio, aprovado automaticamente, sabe, por exemplo, que, se a Petrobras gastou na refinaria na Bolívia um total de $200 e a vendeu por $110, seus acionistas, bem como os contribuintes brasileiros, perderam. Não é fraqueza, é esperança envergonhada e solidariedade enrustida ao projeto de implantar na América do Sul uma filial da falecida URSS. Se existe tibieza, é ideológica. Pena que nossa oposição seja um desastre... Nota do Editor: Ubiratan Iorio (www.ubirataniorio.org) é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ (2000/2003), Vice-Diretor da FCE/UERJ (1996/1999), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, Professor do Mestrado da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC, Professor dos Cursos Especiais (MBA) da Fundação Getulio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Coordenador da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC (1995/1998), Pesquisador do IBMEC (1982/1994), Economista do IBRE/FGV (1973/1982). Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP). Diretor-Presidente da ITC - IORIO TREINAMENTO E CONSULTORIA.
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