É dia de vento, coisa rara em Ubatuba. A molecada se agita na casa. Pede um trocado pra comprar cola e papel de seda colorido, corta as sacolas de supermercado pra fazer rabiola, quebra pedaços de vidro pra fazer cerol. Entra no mato pra catar taquara pra fazer varetas. De repente, olho pra cima, e lá está ela, riscando o azul limpo do céu. Ela vai empinando, manobrando, subindo, subindo, graciosa, brincando com a liberdade! E chega lá em cima, muito lá no alto, até virar um pontinho que brilha com o reflexo do sol. A rabiola treme assanhada, como se gozasse com as carícias do vento. Divide o céu soberana, com o cume denso e verde da montanha. No seu estado de êxtase, nem percebe, que logo mais embaixo, vem chegando sorrateira, a sua rival. E num leve roçar de linhas... pronto! Desconecta-se, despluga-se... e lá vai ela, desorientada, como se lutasse ao sabor do vento, contra a força infalível da gravidade. Ela vem, vai e cai, / vem, vai e cai, / levando meu pensamento pro outro lado do rio.
|