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COLUNISTA
Sidney Borges
31/07/2004 - 11h14
Coisas da vida
 
 

Não consigo lembrar em que ano aconteceu, nem quantos anos eu tinha, sei que num certo dia, já quase alfabetizado, notei que os dias eram numerados seqüencialmente.

Foi assim de estalo, era dia 12, no outro dia amanheceu 13, tenho certeza, tive o cuidado de conferir. Na manhã seguinte arrisquei perguntar na mesa do café:

- Hoje é dia 14?

Meu pai e minha avó disseram que sim, minha mãe, como todas as mães, atenta ao rebento perguntou:

- E amanhã, que dia será?

Respondi 15 e fui aplaudido por todos que ficaram me olhando como se eu tivesse acabado de inventar a roda. Continuei verificando a numeração, satisfeito com a descoberta, até que outra vez, no café da manhã, já dono da verdade, afirmei convicto:

- Hoje é dia 32.

Meu avô, sem tirar os olhos do jornal corrigiu:

- Não, hoje é dia primeiro.

Foi uma das primeiras sensações de frustração que experimentei, logo eu saberia mais do assunto, quando propus casamento para a Fernanda e ela recusou.

Isso aconteceu muito depois, eu já estava na escola, tinha sete anos, ela tinha dezoito. Era o que se pode chamar de gracinha. Alegou diferença de idade.

Demorei em me acostumar com o vai-vem dos dias, até que descobri os meses e depois os anos. Antes eu estudara atentamente os dias da semana.

Com o futebol foi a mesma coisa, todos torciam por algum time e ficavam atentos ao que o rádio dizia sobre o campeonato.

Quando comecei a prestar atenção de fato, me empolguei. Passei a acompanhar as partidas no rádio e na televisão, até os jornais começaram a ter significado.

Eles falavam de futebol, naquele momento o que havia de mais importante no mundo, fora a Fernanda. A insensível mulher partiu o meu coração ao ficar noiva de um cara de bigodinho.

No fim do ano o campeonato estava terminando e o meu time ganhou.

Eu era campeão!

Uma alegria imensa se apossou de meu coração, minha alma estava leve, eu tinha sido escolhido pelos deuses, tinha escalado a montanha e atingido o panteão dos vencedores.

Eu era campeão!

Durou pouco o triunfo, logo começou outro campeonato e todos queriam ser campeões, o que eu nunca entendi. Se já havia um campeão, para que outro campeonato?

Foi assim que o futebol perdeu significado em minha vida.

Comecei então a prestar atenção em luta livre. Bem, isso é outra história...


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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