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Opinião
05/07/2007 - 18h38
A importância do ato de ler
Dartagnan da Silva Zanela
 

Outras pessoas muito mais qualificadas que eu já dedicaram o peso de seus punhos na feitura de textos que versem sobre a importância do ato de ler. Mesmo assim, creio que posso dar um pequeno pitaco no meio desta prosa e assim ofertar não uma nova teoria sobre a necessidade basilar deste ato, mas apenas, modestamente, oferecer uma breve reflexão baseada unicamente em minha experiência pessoal frente a leitura e sua importância.

Para que ler? Essa é uma pergunta que com grande freqüência se faz. Praticamente toda a vez que uma pessoa provoca outra a deitar suas vistas sobre as páginas de um livro mais que depressa esta lhe responde: "pra que"? Ou: "tenho coisa melhor a fazer do que perder o meu tempo".

Diante deste quadro, refaçamos a pergunta. Ao invés de perguntarmos para que ler algo, indaguemo-nos quanto ao outro ato. Isso mesmo, por que não devemos ler? O que fazemos quando não estamos lendo? Creio que nada de significativo, na maioria dos casos.

Mas façamos uma pequena avaliação sociológica do problema. Vejamos quanto tempo nós desperdiçamos com ócio improdutivo e infecundo. Reflitamos sobre a nossa suposta falta de tempo para a realização do ato de ler, visto que, já é mais do que um lugar comum a afirmação de que não temos mais tempo para nada, não é mesmo?

Então vejamos: tomemos de empréstimo os ensinamentos do sociólogo italiano Domenico de Masi para assim podermos averiguar o quanto somos incompetentes na administração de nosso tempo livre.

Vamos calcular um pouco nossa preguiça. Dos 20 anos de idade até os 60 nós iremos trabalhar 40 anos, o que equivale a 530.000 horas de vida, correto? Muito bem, suponhamos que você trabalhe 8 horas por dia. Isso equivaleria de 1700 a 2000 horas de trabalho por ano. Em 40 anos iria totalizar aproximadamente algo em torno de 70.000 a 80.000 horas de labor.

Ótimo, e o que fazemos com as 460.000 horas restantes? Digamos que dediquemos 10 horas por dia para dormir, lavar-se e o que chamam de "cuidar de si". São mais 230.000 horas. Restam ainda outras 230.000, completamente vazias, absolutamente vazias.

Isso mesmo. Temos sobrando cerca de 230.000 horas de tempo livre que são infinitamente mal administradas. Temos todo este tempo disponível e não encontramos nem 30 minutos diários para dedicar à uma leitura. Isso, literalmente, é um dos maiores absurdos da modernidade e, de maneira especial, da brasilidade.

Para tornar este colóquio mais prático (palavrinha maldita), perguntamos: O que você faz em uma fila de banco? E na sala de espera de um consultório? O que você faz dentro do ônibus circular? E do ônibus de linha? E em uma rodoviária? O que você faz no domingo? Emerge o seu olhar no espaço vazio para melhor preencher o vazio de sua vida? Folheia aquelas revistas velhas sobre fofoca e/ou fofoca diretamente com outra pessoa próximas de você de almas tão vazias quanto a sua?

Em boa parte de nossas vidas acabamos por fazer isso, não é mesmo?

Pessoalmente, para evitar este tipo de situação irritante, sempre carrego comigo um livro além da Sagrada Escritura. A gente nunca sabe quando a monotonia da vida irá nos convidar para tomar um café. Ao invés de ficar tendo de aturar o descaso de terceiros e o meu próprio mau humor, prefiro ficar na companhia das palavras de pessoas que gentilmente partilharam com toda humanidade a sua maneira de ver o mundo e a vida.

Mas, em princípio, qual a importância disso? Bem, só o fato de não estarmos nos enterrando em nosso absurdo existencial já é um grande feito. Porém, se concordarmos que cada livro escrito seria um olhar sobre a realidade fruto da interpretação de uma pessoa sedenta por aprender, podemos afirmar, sem medo de errar, que quem lê, ao contrário de quem não lê, mesmo sabendo, pode ver o mundo com os seus olhos e através dos olhares codificados dos autores que suas vistas decifraram. Já as que sabem ler e não lêem, apenas vêem o mundo através de seus olhos tolhidos pelas suas estultas viseiras que determinam o rumo de uma vida mal vivida.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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