Um dos noticiários mais antigos desta Terra Brasilis de tíbias e efêmeras instituições – para não falar na grande carência de continuidade de tudo o que é bom – o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro tem uma seção especial em que ele apresenta pequenas matérias publicadas por ele próprio há 50 e 150 anos. Isto mostra-se interessante não só para os espíritos curiosos e saudosistas, como também para os espíritos inquisitivos e desejosos de fazer comparações do passado com o presente, tendo em mente, principalmente, verificar o que mudou e o que não mudou, o que mudou muito e o que quase nada mudou na referida metrópole. Vejam, por exemplo, esta interessante matéria republicada em 11/6/2007: “Um fato inusitado. Ontem, em altas horas da noite, dois franceses que residem na Ladeira do Castelo acordaram com o barulho de um cão do vizinho e entenderam que deveria haver um gatuno nas redondezas. De fato, levantaram e prenderam um preto que tentava assaltar a cozinha. Eles o levaram ao corpo da guarda do Castelo, mas ninguém ali quis ficar com o ladrão. Depois, os dois franceses tentaram entregá-lo a diversas autoridades, mas com igual resultado. Por fim, o feliz ladrão foi logo solto e logo desapareceu.” (Jornal do Commercio, 11/6/1857). Bons tempos... Priscas eras... A Ladeira do Castelo, no morro de idêntico nome, foi aplanada e virou a Esplanada do Castelo (ali mesmo onde hoje é o Terminal Menezes Cortes). Os gatunos, produtores de acontecimentos inusitados, foram substituídos por produtores de freqüentes acontecimentos: assaltantes à mão armada e não pobres famintos que invadiam casas, na calada da noite, para furtar comida. Contudo, nem tudo mudou nesta São Sebastião do Rio de Janeiro... As “diversas autoridades” continuam mais incompetentes e corruptas do que nunca. Grassa a impunidade generalizada. O Rio é Chicago nos anos 30 com Al Capone e a Cosa Nostra, mas infelizmente sem Elliot Ness e Os Intocáveis. Além disso e pior do que tudo isso, bala perdida não chama mais a atenção de ninguém: é coisa que costuma entrar por um ouvido e sair por outro... Nota do Editor: Mario Guerreiro (yperion@bol.com.br) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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