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Opinião
10/07/2007 - 16h00
"Mangabofobia" aguda
João Luiz Mauad - MSM
 

"O engrandecimento do Brasil soará em todos os recantos da Terra, como o grito de uma criança ao nascer, prometendo um novo começo para o mundo. Presos a seus afazeres, ansiosos para esquecer que morrerão, homens e mulheres pararão por um instante, perturbados por esperança inesperada. Ouvirão nesse grito a profecia do casamento da pujança e da ternura" (...) "O Brasil se levantará, será um milagre de iniciativas singelas por falta das quais uma vitalidade desmedida não conseguia até então ser fecunda". - (Roberto Mangabeira Unger)

Assim que pus os olhos na logorréia poética acima, retirada do discurso de posse do novo ministro Mangabeira Unger (encarregado, ainda não sei exatamente se da "Secretaria de Planejamento das Ações de Longo Prazo" - vulgo "Sealopra" - ou do "Ministério do Futuro" - vulgo "MiFu"), comecei a sentir estranhos calafrios, num surto daquilo que o professor Sérgio Rodrigues classificou de "Mangabofobia" - "neologismo com o qual pretende-[se] dar conta não de uma aversão a mangabas, frutos meio antipáticos mas inofensivos da mangabeira, e sim do pânico que (...) inspiram o catedrático de mesmo nome e seu estilo oratório copiado (...) dos trejeitos de Benito Mussolini: queixo projetado, boca desenhando um U de cabeça para baixo, peito cheio como o de um galo de briga, voz projetada com arrogância e olhos varrendo a audiência, desafiadores, em pequenos arrancos de boneco de mola".

Meu médico garantiu que isso passa. Não sei, não. Tenho medo que o homenzinho de Harvard se transforme no meu Fred Krugger pessoal, disposto a tudo para aterrorizar-me com seus planos mirabolantes. Acometido por terríveis pesadelos, antevejo o monstrengo parindo leis em profusão - tal qual um Allien. Sua cria primogênita - cuja primeira maldade seria atazanar a alma do saudoso Bastiat - viria ao mundo na forma de uma lei para livrar os fabricantes de lâmpadas da injusta concorrência do sol, um competidor cruel que comete dumping sistemático e fornece luz de graça para todos.

Meu terror torna-se ainda mais desumano porque sei que minha luta contra o Fred Krugger de Harvard é absolutamente desigual. Enquanto eu me descabelo para tentar entender os mecanismos que movem a ação humana (aquela tal praxiologia) e a dinâmica dos mercados, ele parece não estar nem aí para eles. Para o meu algoz, o mercado nada mais é do que um grande tabuleiro de xadrez, em que pode exercitar a sua arrogância intelectual. Já para mim, é um sistema de estrutura extremamente complexa e equilíbrio tênue, que evolui e se aprimora ao longo do tempo.

Ele simplesmente ignora o poderoso mecanismo de preços, que registra a intensidade dos desejos e necessidades dos consumidores, e dá aos empreendedores a oportunidade de saber o melhor emprego para os recursos sempre escassos. Tampouco se importa que seja absolutamente impossível predizer o resultado de bilhões de transações individuais e voluntárias, bem como os impulsos que geram as decisões e interações que culminam nestas transações. Eu, por outro lado, prevejo conseqüências catastróficas de longo prazo quando os planos de Fred forem colocados em prática, já que nem mesmo ele, malgrado todos os seus poderes sobre-humanos, jamais poderá prever com precisão o comportamento dos agentes, pois seria necessário estar a par de cada pequena informação, dispersa de forma assimétrica entre milhões de pessoas.

Meu maior medo, no entanto, é que esse homem de fala mansa e sotaque gringo jamais se deterá em sua sanha planificadora. O jogo que ele joga não é justo, pois se não derem certo as suas "jogadas", sempre lhe sobrará a sua cadeira em Harvard. Ele não perde nunca. Já este pobre mortal não tem como vencer.

Por que, meu Deus, eu tinha que acreditar naquilo que Hayek chamava de "ordem espontânea"? Ou achar que aqueles que se arrogam a tentar interferir nessa ordem estão implicitamente reivindicando possuir todas as respostas necessárias para produzir resultados melhores do que a interação cotidiana de milhões de indivíduos?

Por que, meu Pai, eu deveria saber que ninguém possui suficiente informação e conhecimento para determinar, ou sequer prever, quê particular método ou solução é melhor para lidar com problemas tão complexos? Será justo que eu me veja, de repente, acometido desses pesadelos macabros, simplesmente porque acho mais prudente que se deixe o mercado resolver os problemas surgidos no seu âmago?

Será que essa "mangabofobia" é alguma espécie de castigo divino pelo pecado mortal de ter eu insistido, durante tanto tempo, que se deixasse o mercado corrigir-se sozinho, sem a ajuda de planos simplistas? Ou será que esse surto paranóico pode ser explicado freudianamente como uma reação do meu id àquela recusa indelével do ego em aceitar passivamente qualquer modelo ou plano originado na cabeça de políticos e burocratas?

Por favor, Senhor, ajude-me a suportar esta provação.


Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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