O prefeito Gilberto Kassab até "deu uma dentro" ao suspender o hediondo rodízio de automóveis que perdura em São Paulo há anos. Sempre vi nessa medida uma enorme violência contra a liberdade e ir e vir e um ônus adicional aos proprietários de automóveis, mais das vezes surpreendidos pelo trânsito paralisado e assim multado impiedosamente por essas máquinas fantásticas de fazer dinheiro, mais eficientes que caça-níqueis, que são o radares e as câmaras fotográficas neles embutidas espalhados pela cidade. A tecnologia da informação aqui se presta a armar a força da ditadura burocrática que esmaga o cidadão nesses tempos bicudos. A medida de suspensão gerou má vontade de todos os jornais. Os editorais e os repórteres passaram a apontar de forma sistemática o trânsito ruim "por causa da suspensão do rodízio", numa evidente falsificação dos fatos. Ora, o trânsito ficou ruim em grande parte porque nesse período obras são realizadas, caminhões continuaram a obstruir, por acidentes, as marginais e os grandes corredores, e por causa da sempiterna irracionalidade da engenharia de tráfego em muitos trechos, continuando a fazer a sua parte, impedindo a fluidez. Sabe-se que mais de um milhão de veículos deixaram a capital em férias e as escolas, sem funcionar, deixaram de ser pontos de represamento do tráfego, logo essa medida, paliativa e violenta, perdeu a sua razão de ser. As demais causas que provocam pouca fluidez no fluxo de veículos continuaram a operar, com rodízio ou sem ele. A burocracia do trânsito no Brasil é das mais autoritária e ativa e ganhou suporte de todos aqueles, movidos pela ideologia comunista, que fizeram do automóvel o símbolo da independência individual a ser perseguido. Essa burocracia cassou o direito de ir e vir sem dar nenhuma alternativa aos usuários de automóveis que não o sistema de transporte coletivo ineficiente, desconfortável e inviável nos horários de maior pico. Além do mais essa é uma medida mais que autoritária, é discricionária, pois os proprietários de jornais, seus editores e a laia burocrática que governa tudo fogem facilmente da ditadura do rodízio porque dispõe de recursos para adquirir um segundo automóvel e, quando não, pode arcar com os elevados custos do transporte de táxi, mais das vezes pagos pelas empresas. Rodízio para quem tem mais de um automóvel não existe, de sorte que ele só vale, na prática, para os arremediados que compram seu carrinho a duras penas, numa flagrante injustiça e discriminação. Para ser real o rodízio deveria impedir os barões, inclusive os da mídia, de usarem sua frota, não os veículos individualmente. São eles que entopem o trânsito, é só ver o que ocorre nos Jardins, nas imediações da Oscar Freire onde não há pobres. Os pobres que só dispõem de um único carro são os únicos verdadeiramente penalizados pela medida nazista. Na prática os barões da mídia querem que os pobres desobstruam as vias para que eles possam transitar livres e confortavelmente e fazem isso sob um discurso hipócrita de estar regulando o bem-estar geral. É grotesco. É mentiroso. Nem nas férias esses fariseus dão sossego. Toda a gente é sacrificada para o bem estar dessa escória moral que tem o poder de comunicação e de regulação. Devo admitir que o prefeito Kassab até tentou, mas foi engolido pelo maremoto da mídia. Se tivesse um pouco mais de hombridade teria enfrentado a onda de mentira em defesa da maioria, mas nosso prefeito não se notabiliza exatamente pela coragem. Mais uma vez o cidadão foi sacrificado no altar da mentira e ninguém saiu para protegê-lo. Sem contar que essa laia que governa e forma opinião mora bem, em bairros nobres próximos a tudo que lhe interessa, do local de trabalho aos shopping centers, do clube que freqüenta aos serviços médicos e hospitalares de que necessita. Já aqueles que têm um mísero veículo na garagem moram longe do trabalho, dos médicos, do lazer, de tudo. Precisam verdadeiramente do automóvel todo o tempo. Foram eles que tiveram seu direito de ir e vir irremediavelmente cassado. Ser proprietário de automóveis hoje é pagar múltiplos impostos, é ser achincalhado pela burocracia das pontuações ridículas que suspende a carteira de habilitação, é ser perseguido como um animal de presa, é ser taxado de poluidor, é ser roubado pelas multas, pelos preços abusivos dos estacionamentos, pelos preços exorbitantes dos carburantes, pelo trânsito infernal que se deve mais à irracionalidade de sua engenharia e à carência de infra-estrutura do que à quantidade de automóveis que circula no período de férias e também pela não conclusão do Anel Viário que deveria retirar de circulação os caminhões que desnecessariamente trafegam pela cidade. Mas essa obra não dá voto, logo foi sendo deixada de lado por sucessivos governos. Meu caro leitor, os barões da esquerda e da mídia (uma redundância) não cumprem o rodízio, burlando-o de forma simples: comprando mais um automóvel de reserva, de placa de final diferente de seu automóvel principal. Quando você ouvir algum deles pregando o rodízio saiba que está diante de um embusteiro, um algoz das liberdades individuais. Especialmente se você possui um único veículo, estará sendo feito de tolo, tendo a sua liberdade restringida, sua capacidade de trabalhar inibida para que essa malta de chupins possa andar melhor em seus automóveis. Abaixo o rodízio! Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL - Associação Nacional de Livrarias.
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