Em menos de um ano, mais uma tragédia de proporções assustadoras acontece no setor aéreo, a maior já registrada no país. Juntando o acidente da Gol com este da TAM, estamos falando de quase 400 mortos! Ainda é cedo para apontar com certeza os culpados, mas há evidências de que as pistas do Congonhas, sem as ranhuras necessárias para a melhor frenagem dos aviões, levaram o avião a derrapar. Na tentativa de arremeter, o piloto teria perdido o controle e batido no prédio da própria empresa, causando a explosão. São as especulações que parecem mais plausíveis no momento. Mesmo que tenha ocorrido falha humana, a tragédia possivelmente seria evitada se a pista do aeroporto fosse maior e mais segura. Em primeiro lugar, gostaria de registrar minha profunda tristeza pelas vítimas e seus familiares e amigos. Eu tinha parentes que estavam prestes a aterrizar no mesmo aeroporto, e posso apenas imaginar o desespero dos que perderam familiares na catástrofe. A dor deve ser insuportável. Sei inclusive que o momento não parece o mais adequado para falar de política, mas por outro lado, entendo que justamente nesses momentos de maior angústia e revolta, devemos compreender as possíveis causas. Somente assim novos acidentes poderão ser evitados. Quando o choque das pessoas passar, muitos vão simplesmente ignorar o que pode estar por trás desse caos aéreo, que coloca tantas vidas em risco desnecessário. Mesmo que nesse caso específico fique comprovada a ausência de culpa da Infraero, o fato é que a estatal tem sido totalmente negligente e irresponsável. E isso é algo inadmissível, que tem solução relativamente simples. Li muitos comentários de pessoas revoltadas com a postura do governo nessa crise, mas creio que a maioria foca no lugar errado. Sem dúvida este governo tem sido irresponsável em inúmeros aspectos, sem falar dos comentários mais que infelizes de certos membros. Trata-se de um desgoverno, na verdade. Mas o ponto principal é que o setor público não conta com os incentivos adequados para resolver estes tipos de problemas. O PT é mais incompetente, sem dúvida. Mas falta um mecanismo correto de punição pelos erros e prêmios para acertos no setor público em geral. Muita gente no Brasil ainda condena o fator lucro como motivador de empresas, ignorando completamente sua fundamental importância na eficiência dos serviços prestados. Se a Infraero fosse uma empresa privada, uma catástrofe desta magnitude poderia facilmente levá-la à bancarrota. Basta imaginar a pressão que todos fariam, inclusive o governo, sem falar das escolhas dos consumidores. Isso parece um incentivo bem razoável para que qualquer empresário ganancioso faça o máximo possível para evitar tais acidentes. O governo será invariavelmente um pior gestor, pois falta este tipo de incentivo. Basta verificar a espantosa melhoria de qualidade em todas as empresas privatizadas. Alguém lembra como era a Telebrás estatal? Não há porque ser diferente com aeroportos. Inclusive, vários foram privatizados mundo afora, e operam com eficiência infinitamente maior que os nossos estatais. A Infraero deve ser privatizada, ponto! Falar em privatização agora pode parecer frieza de minha parte, mas é justamente o contrário. As vidas perdidas, provavelmente por uma negligência assassina da estatal, ao que tudo indica, não podem ser resgatadas. Aos familiares que ficam, resta lamentar profundamente e desejar que sejam capazes de superar tal tragédia. Uma mãe perdeu dois filhos adolescentes de uma vez! Mas podemos fazer algo quanto aos que ainda estão vivos. Podemos evitar novas desgraças como esta. Podemos salvar vidas no futuro. O meio de fazer isso é delegar ao setor privado a gestão do setor, pois este será sempre mais eficiente, por causa dos incentivos presentes. Quantas vidas não são perdidas todo ano em acidentes de trânsito, por exemplo, por causa de estradas em péssimo estado? As pessoas precisam acordar para o elo de ligação causal entre gestão pública e risco desnecessário de vida. As mãos do governo estão sim sujas de sangue inocente. Isso vale para as criminosas condições em nossas estradas, para a violência urbana e também para os acidentes aéreos. Esta enorme tragédia foi anunciada. O governo nada fez que pudesse reduzir as chances dela ocorrer. É hora de dar um basta! Estão brincando com muitas vidas. O povo não pode perder a capacidade de se indignar! Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog para a divulgação de seus artigos.
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