Sim. Isso mesmo. Posso me sentir como uma autêntica testemunha ocular (e principalmente de pele) de que o aquecimento global é perigoso e tende a ficar ainda mais se as autoridades mundiais continuarem de braços cruzados. Bom, ao que parece eles já estão começando a descruzar, já que ministros de meio-ambiente de vários países se reuniram no Quênia para estudar modificações no comércio global de modo a salvar o planeta. Isso tudo só se deu depois de um assustador relatório da ONU, que culpou totalmente nós, seres humanos, por alterações irreversíveis no clima da Terra. Pois bem. Voltando ao meu testemunho. Freqüento praia desde que me entendo por gente, ou seja, mais ou menos desde quando tinha uns 6 anos. Como tenho pele morena, a tendência é que eu seja menos propenso a doenças como melanomas e outras. Mas sempre fui de ficar mais bronzeado que os outros e em menos tempo também (fico coradinho com umas 3 horas de sol). Desde moleque, nunca fui muito de passar protetor. Sempre fugia da minha mãe nessas horas; ela me seduzia com biscoitos ’O Globo’ (nessa época eu achava que era realmente um biscoito das Organizações Plim-Plim) para aproveitar e passar o bendito protetor solar. E isso me irritava, por que além de ter que ficar parado, as ondas vinham e destruíam meu castelo de areia. Mesmo depois de crescido, continuei a não passar protetor. Como pego cor fácil, fácil, fico as horas necessárias exposto ao sol e depois me enfio debaixo da barraca de alguém. Nos dois últimos verões, em 2005 e 2006, eu ia à praia sem qualquer tipo de proteção ainda. Ficava na praia das 11 até as 4, 5h, ou até encher o saco. Mas no verão desse ano (pelo menos nos dias que fizeram sol), estive constatando que o tal aquecimento (nossa, aquecimento é a palavra da moda nas rodinhas de bar e entre os que se julgam intelectuais) já está deixando marcas à flor da pele. No domingo de 28 de janeiro, estive em Ipanema (para variar) e saí de lá ’roxo’. Fiquei impressionado quando cheguei em casa. Depois que saí do banho, notei que algo inédito tinha acontecido comigo; minhas mãos (não a palma) estavam queimadas. Confesso que fiquei um pouco assustado. Queimar as mãos?! Que coisa mais estranha! Em tantos anos que vou à praia, isso para mim era novidade. Se nos outros verões eu agüentava ficar mole umas 4, 5, 6 horas torrando, na semana passada eu estava pedindo pinico com pouco mais de 3 horas. Não é porque estou mais velho, ou porque o sol estava com raiva de mim. É simplesmente por causa da destruição da camada de ozônio. E não teve jeito. Para dormir, tomei um ’banho de hidratante’ (não sou metrossexual, mas não tinha como). No domingo, 4 de fevereiro, resolvi dar o braço a torcer; ou melhor, as mãos e todo meu corpo. Me enchi de protetor no rosto, costas, ombro, braço e principalmente nelas; as mãos. Fui à praia normalmente. Já estava descascando feito uma barata. Mas, enfim, agüentei, dessa vez, 5 horas de sol a pino. Cheguei em casa, tomei aquele banho, e reparei que outra vez algo inédito havia acontecido comigo. Dessa vez, para surpresa geral, meus pés estavam queimados. E tome de passar hidratante novamente nos pés. Agora, para o próximo domingo, a fim de evitar novas ’surpresas dérmicas’, vou passar protetor até no suvaco. E se ninguém fizer nada quanto ao aquecimento, ir à praia, daqui a alguns anos, só se for vestindo um escafandro ou armadura. Nota do Editor: Renan Oliveira é jornalista carioca, formado pela Facha. Atualmente cursa Radialismo e trabalha na Assessoria de Imprensa da Biblioteca Nacional. Já trabalhou nas assessorias da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e também no Instituto Benjamin Constant. É criador e editor do blog Até o Ponto Final, onde publica semanalmente suas crônicas e poesias.
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