“Os políticos são todos iguais”! Eis a lengalenga que se repete ciclicamente. Mas, apesar das semelhanças entre estes seres de estirpe vil, muitos deles são infinitamente piores que os demais. Porém, eles têm algo em comum: discursos vazios que refletem de maneira tosca a alma vazia do eleitorado brasileiro. Para refletirmos sobre o universo da vida política, uma analogia com o mito de Narciso é deveras relevante, onde nós somos o belo e vaidoso rapaz e a casta política o lago mortal que reflete em suas plácidas águas a imagem do que somos, nos atraindo assim de maneira irresistível para a nossa própria destruição. Maldição esta rogada pela bela Eco. Esta nada mais seria do que a nossa superficialidade tacanha, fruto de nossa mania de fingir que está por dentro de todos os assuntos, que compreende todos os temas com grande destreza só porque se criou em meio as jogadas sórdidas das campanhas eleitoreiras, ou porque entregava panfleto contra a ALCA e o FMI, ou simplesmente porque devora a revista Veja ou Época no domingo à tarde. Tais informações e experiências ecoam em meio a nossa alma esvaziada de substância, sendo apenas repetidas por nossos lábios como se fossemos um coro maldito de uma tragédia sem fim. Coro este que fica a gritar de maneira esganicida: “os políticos são todos iguais”! Sim, mas e você, o que tem de diferente para arrotar autoridade moral? Eis a pergunta que é sempre calada a força nas conversas de botequim. Mas, esta é a pergunta que revela de modo atávico a verdade sobre a alma brasileira. Verdadeiramente, somos uma sociedade torpe, formada por indivíduos desprovidos de dignidade. Todos reclamamos que Brasília é uma ilha da Fantasia, que no Congresso a mais ou menos trezentos picaretas com anel de doutor e que o país não anda pra frente em boa parte pela má parte que cabe aos moradores desta Ilha despraiada. Entretanto, perguntamos: e quanto a nossa fatia desta podridão? O que são as municipalidades deste país senão republiquetas degradadas onde todos os membros destas civitas têm como único valor comum o desejo irascível de se dar bem de uma forma ou de outra? Aliás, quem realmente deseja entender o lodo existencial que a nossa sociedade se encontra? Ninguém. Queremos apenas, se possível for, varrer a sujeira para debaixo do tapete. Basta o Brasil ganhar a Copa América e algumas medalhas no Pan-Americanos que está tudo bem. Não desejamos nos esclarecer sobre a causa de nossos males. No fundo, o que apenas desejamos é esquecê-los e encontrar alguém de seja responsabilizado pelas chagas geradas pela nossa fútil vida societal e um outro qualquer que nos “proteja amavelmente” como se este fosse nosso “pai protetor”. Estou sendo exagerado? Então me diga uma coisa: quantas horas semanais de trabalho voluntário você dedica a sua comunidade? O quanto você doa de você para a sua polis? Se você realiza isso, ótimo. Então responda a outra pergunta: você faz isso de maneira desinteressada ou com vistas a se lançar candidato a um cargo dentro da maquinaria leviatãnica? Depois eu é que sou exagerado. Bem, por fim, indago, qual foi o último livro sobre filosofia ou sociologia política que você leu? Ah! Você é daqueles papagaios que acreditam que o que mais conta é a vida prática junto com os chacais que nos espoliam, digo, governam. Você é daqueles que acham que a superficialidade desta forma de viver é a vereda pela qual devemos singrar para curar nossos males societais. Ledo engano. Para limpar uma fossa como este país que vivemos na América Latrina, temos que atacar nossa enfermidade em profundidade (e sem promiscuidade). Mas isso, não é trabalho leviano e muito menos de curto prazo. Não é mudando o nome de um partido político ou fundando outro. Creio que, todas as pessoas que realmente são sérias (pois, muitas fingem muito bem), devem se dedicar a reflexão de nossa cultura política e viver plenamente esta reflexão para assim irradiar essa nova postura frente ao corpo social. Este é, realmente, um tratamento contínuo e a longo prazo. Entretanto, ações paliativas não irão nos salvar dos discursos vazios, pois continuaremos, deste modo, a ser parte deles. Lembremos sempre, que tanto nós como os governantes, não somos a solução, mas apenas uma parte do problema.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|