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Crônicas
23/07/2007 - 17h18
A filha do verdureiro
Celamar Maione
 

Neidinha acorda angustiada no meio da madrugada e chama pelo marido:
- Aderbal, acorda. Aderbal, me responde uma coisa.
- O que houve? Incêndio? A casa foi assaltada? As crianças...
- Você me trai?
- O quê?
- Ela grita: VOCÊ TEM AMANTE?
- Que horas são?
- Três.
- Você me acorda às três da matina com essa pergunta? Levanto às 6 para trabalhar. Boa noite.

Vira para o lado e coloca o travesseiro no ouvido. Neidinha sacode Aderbal:
- Acorda. Tive um pesadelo. Você beijava outra mulher.
- Amanhã a gente conversa. Não enche, to com sono.
- É a filha do verdureiro?
Aderbal perde a paciência e aumenta o tom de voz:
- Aquela morena gostosona?
- Sabia. É ela não é? Sabia! Olha que voz empolgada. Só porque falei dela.

Aderbal não responde. Respira fundo e adormece. Durante o café da manhã, Neidinha fala do pesadelo e questiona o marido mais uma vez:
- Você e a filha do verdureiro estão de caso, né.
- De novo? Você tá precisando trabalhar para deixar de enfiar merda na cabeça.
- Me diz. Só me diz. Não gosto de ser enganada.

Aderbal se aborrece. Sai de casa batendo a porta. Neidinha fica sozinha e pensa: "é ela. Quem cala, consente". Antes do almoço, vai no hortifruti e, de longe, observa Rosilene, a filha do verdureiro. Uma raiva toma conta de Neidinha. Quando vê Rosilene falar ao telefone, imediatamente liga para o celular do marido. Ocupado. Neidinha tem certeza que Rosilene fala com Aderbal. Movida pelo ciúme, vai até o supermercado, onde trabalha Ribeiro, o noivo de Rosilene:
- Como vai dona Neidinha? Em que posso ajudar?
- Sua noiva e meu marido são amantes.
- O quê? - Ribeiro espantou-se. Acreditou que estivesse ouvindo mal.
- Não se faça de surdo. Você entendeu. E precisa tomar uma atitude.
- Como a senhora sabe? A Rosilene é fiel, um anjo de mulher.
- Anjos não existem. Não confie em mulher de rosto angelical. É tudo fingimento. São as piores. O rosto angelical é para enganar trouxas como você.

Quase convence Ribeiro que a noiva o trai. Vai embora satisfeita. Em casa, depois de colocar as crianças para o colégio, conversa com a amiga Estelita ao telefone:
- Me paga. Descobri tudo. Sexto sentido de mulher.
- Tem certeza?
- Absoluta. O pesadelo foi claro. Um aviso.
- E esse Ribeiro vai fazer alguma coisa?
- Eu espero que tome uma atitude.

Em casa, Neidinha não toca mais no assunto. Aderbal estranha pois conhece o temperamento da mulher. Por outro lado, sente-se aliviado das cobranças. Neidinha prefere investigar por conta própria. Persegue. Vigia. Quando o marido sai para trabalhar, e ela vê Rosilene sair do hortifruti arrumada, imagina os dois juntos. Com o coração apertado e envenenado pelo ciúme doentio pensa: "vai se encontrar com meu marido". Neidinha volta a procurar Ribeiro:
- Já decidiu o que fazer?
- A senhora pode estar enganada.

Para não deixar dúvidas, mente:
- Vi com meus próprios olhos. Aquele safado entrou no motel com Rosilene.
Estavam aos beijos no carro.

Acredita na própria mentira e começa a chorar. Os lábios de Ribeiro perdem a cor. Sente como se a vida o abandonasse por alguns segundos. Ele ainda tinha esperança de tudo ser fantasia da cabeça de Neidinha, mas diante daquele choro, não tem dúvida. Neidinha não dá mais sossego a Ribeiro. Todos os dias vai ao supermercado desafiá-lo:
- Não vai fazer nada? Você é um merda mesmo! Um corno manso! Merece o par de chifres!

Neidinha chegava ao exagero de dar dinheiro para os meninos de rua passarem em frente ao supermercado gritando:
- O Ribeiro é corno manso! O chifre do Ribeiro está crescendo! O chifre do Ribeiro está queimando!

Os meninos se divertiam e ganhavam uns trocados. Ribeiro ficava furioso. Além de ficar conhecido como corno, estava ameaçado de demissão, por causa da algazarra das crianças em frente ao supermercado. Resolveu mostrar que não levava desaforo para casa. Enquanto isso, o telefone toca na casa de Neidinha. Era a amiga Estelita:
- Descobri, Neidinha! Fonte quente. A filha do verdureiro é amante do gerente do supermercado onde trabalha o noivo. O Aderbal é fiel a você. Ama você.

Neidinha treme dos pés a cabeça:
- Tem certeza?
- Tenho.

Neidinha desliga o telefone e corre para o supermercado. Precisa desfazer o equívoco. No caminho, em frente ao hortifruti, encontra Ribeiro com uma arma na mão, ameaçando Rosilene. A jovem desaba em choro ajoelhada aos pés do noivo:
- Eu amo você! Fui fiel a você todos os dias da minha vida! Você foi meu único homem!
- Vagabunda! Cínica! Não acredito em mulher com rosto de anjo.

Num gesto impensado, Neidinha se mete na frente de Rosilene:
- Ela é inocente. Não mata!

Neidinha recebe o tiro que era para a filha do verdureiro. Ribeiro se joga no chão e dá um urro delirante:
- O que é que eu fiz?! Matei uma mulher! Sou um assassino cruel!

Antes de ir preso, é linchado pela multidão que se aglomera em frente ao hortifruti. Rosilene faz questão de ir ao enterro de Neidinha. Na volta para casa, Aderbal oferece uma carona. São observados de longe por Estelita. No caminho, Aderbal e Rosilene trocam olhares eróticos.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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