- A verdade é que a humanidade não tem jeito mesmo, deve ser um defeito genético! - É verdade, é verdade... - Veja só esse negócio do Abel. - Abel? Que Abel? - O Abel, aquele que matou Caim. - Ah, sei... mas não foi o Caim que matou o Abel? - Hum, pode ser, mas isso não importa. O que eu estou querendo dizer é o seguinte. Veja bem. Naquele tempo do Caim e do Abel tinha só quatro pessoas no mundo, certo? - Quatro? - É, ué. O Abel, o Caim e os pais deles, o Adão e a Eva. - Ah é, o Adão e a Eva, eu tinha esquecido deles. - Pois então. Quatro pessoas no mundo. E o que é que acontece? Um deles mata o outro. O que quer dizer que naquele tempo, um quarto da humanidade era composto de assassinos. - Um terço. - Como assim, um terço? - Um terço, ué. Um deles não morreu? Ficaram só três. - Puxa vida. É mesmo! Um terço! O que só vem reforçar ainda mais a minha tese. Como é que uma espécie pode dar certo se ela já começou com um terço de assassinos fratricidas e... - Frati o quê? - Fratricida. O cara que mata o próprio irmão. - Ah. - Pois então, se a humanidade já começou com um terço de fratricidas, como é que podia dar certo? Não podia. A coisa vem da genética mesmo. Pra você ter uma idéia, é a mesma coisa de, hoje em dia, dos seis bilhões de habitantes que a Terra tem, dois bilhões deles serem assassinos! Já pensou numa coisa dessas? Dois bilhões de assassinos andando por aí, prontos para matar até o próprio irmão? - Já imaginou só que coisa horrível? - Pois não precisa imaginar nada. Olha só aí em volta e vê a porcaria que está. E é tudo por causa desse negócio do Caim matar o Abel. O ser humano já nasceu estragado. Todos nós temos no sangue o DNA de um assassino! - E isso sem contar outras coisas. - Que coisas? - O Caim, ele teve filho com quem? - O Caim? Bem, sei lá, com uma mulher, evidentemente. - E qual era a única mulher que estava ali, disponível no momento? - Minha nossa senhora! A Eva! Rapaz, a coisa é ainda pior do que eu imaginei! - É verdade, é verdade...
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