Acordo de repente. Sinto como se a noite denunciasse os meus interditos. Tudo é obscuro. Pensamentos acendem em minha mente e tornam-se sombras difusas de caminhos. Extensão do corpo em perspectiva. Ecos em abismos lunares denunciam as impossibilidades. Observo-me entre os cegos véus da noite. Sou o desejo, o medo, o conflito... Redescoberta nas sombrias silhuetas, sou o corpo que queima em suas pulsões, entrega-se e adormece na violência de um orgasmo. Solidão de uma multifacetada alma encarcerada entre as grades de circunstâncias. O presente queima minhas recordações. Fantasias incandescentes se perdem na escuridão. Agonizam este instante com emoções alinhavadas em relâmpagos de presentes já idos. Mergulho em minha angústia... Busco a natureza inalcançável enquanto flutuo na precariedade espelhada no oceano das minhas navegações. Domino o medo, quase me esqueço dos conflitos e dos desejos... Exposição de um múltiplo e pretérito eu... Estreita existência, vitrine de espelhos diversos. Imagens que já não me refletem. São outros... Interditos íntimos, privações ressaltadas na pintura rupestre das cavernas do quase esquecimento. Retalhos insones aquecem meu corpo nu. A noite entregue às inconstâncias. A vigília me dá novas vestes. Desvirgino meus interditos. Não há hímen atestando minhas vedações. Tenho receio de mim... Sobrevivo à madrugada com a saliente cicatriz do alvorecer.
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