Especialistas brasileiros defendem os benefícios da estatina e a necessidade de mais pesquisas
Uma pesquisa publicada esta semana na revista do Colégio Americano de Cardiologia vem gerando polêmica entre o meio científico. Pesquisadores norte-americanos e ingleses anunciaram os resultados de um estudo que avaliou a saúde de 41 mil pacientes que ingeriam estatinas para baixar os níveis de colesterol e concluíram que quanto mais baixo era o colesterol, maior foi a ocorrência de câncer. As estatinas são uma classe de medicamentos utilizados para o tratamento de doenças cardiovasculares. Ao baixar os níveis de colesterol LDL, elas evitam infartos e acidentes vasculares cerebrais. Para o diretor da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), o cardiologista Hilton Chaves, os autores do estudo não conseguiram explicar se a possível maior incidência de câncer esteve relacionada às estatinas. "O que parece ter havido é uma correlação significativa com níveis de colesterol muito baixo", avalia. Segundo o especialista, não se pode ignorar que o câncer per se é uma doença consumptiva. "Ele consome o indivíduo, suas proteínas e reservas nutricionais, e como tal, quem tem câncer, habitualmente, tem colesterol baixo no sangue", explica. O estudo não avaliou os pacientes diretamente, mas analisou as fichas médicas de pacientes envolvidos em pesquisas clínicas sobre a droga, o que é conhecido como estudo de meta-análise. Os resultados apontam para um caso a mais de câncer para cada mil pacientes com níveis mais baixos de cholesterol LDL, quando comparados com grupos de colesterol mais elevado. Para os próprios pesquisadores, não há dúvida sobre os benefícios das estatinas para a prevenção das doenças cardiovasculares, mas, ressalvam, certos aspectos continuam controversos e merecem mais investigação. Cautela Para os especialistas brasileiros o momento é de cautela. "Os pacientes não devem abandonar o tratamento, sob o risco de sofrerem complicações cardiovasculares que podem ser fatais. Neste momento, os benefícios das estatinas superam qualquer efeito adverso", alerta Chaves. "Talvez, não se deva baixar demasiadamente os níveis de colesterol, mas é ainda muito cedo para se tirar conclusões desse estudo", pondera. Em 2003, de acordo com os Indicadores Básicos do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares foram responsáveis pela morte de 274 mil brasileiros. Isso representa o dobro de mortes por todos os tipos de câncer no país. É o equivalente a 30% de todos os óbitos anuais ocorridos no Brasil. O tema será debatido no próximo congresso da SBH (www.sbh.org.br/sbh2007), que ocorre de 16 a 18 de agosto em Recife (PE). A mini-conferência "Estatina para todos?", na sexta-feira (17), irá esclarecer quais são os casos em que a droga deve ser prescrita. O resumo da pesquisa "Effect of the Magnitude of Lipid Lowering on Risk of Elevated Liver Enzymes, Rhabdomyolysis, and Cancer" pode ser lido aqui.
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