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Crônicas
28/07/2007 - 08h01
Minicrônicas
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

 

Despoderes
Plutarco comparou as vidas de muitos homens ilustres, exaltando suas qualidades mais aparentes. Alexandre e César, os grandes conquistadores! Mas para mim, um filhinho de papai mimado, que precisou dizimar legiões para saber-se digno de seu tempo; e um político safado, mestre das mais sórdidas maquinações para fazer valer seus poderes. Mantenho, entretanto, as devidas proporções históricas: um senhor filhinho de papai e um grande político safado.

Prole
O amor nos fez próximos, a proximidade nos fez ardentes, o calor nos fez vibrantes, a vibração nos fez sensíveis, a sensibilidade nos fez gozosos, o gozo nos deu os filhos, os filhos nos fizeram duráveis, a duração nos fez maduros, a maturidade nos fez entediados, o tédio nos fez indiferentes, a indiferença nos fez estúpidos, a estupidez nos fez violentos, a violência nos fez injustos, a injustiça nos fez inseguros, a insegurança nos separou, a separação nos fez doloridos, a dor nos fez fracos, a fraqueza nos fez saudosos, a saudade nos fez ousados, a ousadia nos fez próximos, a proximidade nos fez ardentes, o calor nos fez vibrantes, a vibração nos fez sensíveis, a sensibilidade nos fez gozosos, o gozo nos deu mais filhos...

Batates
A forma das folhas dessas plantas é a mesma, as flores são idênticas, as mamangavas que as polinizam, idem, com a diferença de que um pé de tomates nunca dá batatas, porém um pé de batatas dá pequenos tomates e ninguém fala sobre isso.

Ausência
Os anjos não apareceram para o banquete. Os demônios não mandaram sequer um cartão. As bruxas não deram as caras e os fantasmas silenciaram, definitivamente. Deus também não compareceu para a Ceia de Natal. Para piorar tudo, tive de pagar vintão a um ator fajuto que imitava São Nicolau para alegrar as crianças.

A massa
A massa sempre passou ao largo da arte e da filosofia. Mas nada falou mais, pensou mais, pintou, cantou a massa mais do que a arte e a filosofia.

Madrugada tropical
As festas, as guerras, as invenções, as coisas que sou, sendo a humanidade, os grandes gestos de generosidade, as carnificinas, os genocídios, se eu pudesse viver sem esse peso, seria de minha escolha. Nesse dia um tamanho número de ocorrências se desencadeia na madrugada tropical, e tudo isso sou eu, sendo a humanidade que treme, rodopia, chora e goza... mas no silêncio branco do meu quarto, cercado de besouros por todos os lados, somos somente eu e Edith Piaf.

Achados e perdidos
Estes textos que me vêm de madrugada, quando estou sem caneta e papel, ou sobre a bicicleta, à mesa de jantar... estes textos que desaparecem feito fumaça sempre que não posso capturá-los, será que um dia poderei recuperá-los na seção de “Achados e Perdidos” do céu?

Estrelas
Olhe as estrelas, filha. Olhe as estrelas todas as noites, em sua beleza magnífica. Não é assustador pensar que lá não existem palavras? Mas perceba como estão vivas e vibrantes, ainda que os frios telescópios detectem somente pedras e fogo.

O míope
Sobre o céu e o inferno, há um equívoco que deve ser desfeito com urgência, sob pena de deixar muitas vidas em risco. Pense: por que o Diabo iria querer levar para o castigo do inferno os maus, seus amigos? Não seria mais lógico que pretendesse castigar os bons, que são amigos do seu inimigo? Se você quer poupar sua pele do brasido eterno, aconselho cometer pelo menos uma malvadeza diária, sob a luz do sol, visto que, segundo informações, o Diabo é míope.

Suavidade
A suavidade de um dia perfeito, com céu limpo, tingido por umas poucas nuvens brancas, e no rádio o candidato promete implantar salas de cinema em todas as escolas municipais. “Enquanto os políticos brigam o sabiá canta”, diz minha mãe, enxugando o arroz antes de levar à panela.

Urgência
Onde quer que ele floresça, em qualquer tempo e circunstância, entre a abelha e a flor de laranjeira, nos esconderijos mais ocultos, nos jogos de espelho, nas lutas de afirmação, no fundo oceano entre os corais, entre garras e lamentos sobre os telhados, nos assombros da guerra, entre os escombros dos bombardeios, no perigo dos vendavais, nos campos abertos e nas masmorras, ao nascer das canções e nos sussurros mais secretos, entre os delinqüentes, os nobres, as bestas, na ante-sala da morte, na casa dos anjos... aqueles que se amam devem se encontrar, o amor precisa acontecer!

A guerra dos Georges
Os cronistas de todo o mundo lançavam suas palavras, como um cobertor que protegesse e reavivasse a Terra ferida. Na infinita pequenez das tranças do bordado, nos corações e rosas ressuscitados, estranhas figuras semânticas pululavam, sequiosas de um amor e uma justiça definitivas. O futuro seria a beleza sem o invólucro, o sabor do recheio do bolo. Foi quando veio a Guerra dos Georges, e todos os cronistas pararam de tirar os véus do amanhã. Antes de interpretar a vida, seria necessário interpretar a guerra.

A arte do instante
Hegel dizia que a Natureza não era capaz de produzir arte. Essa era uma prerrogativa dos seres humanos. Porém, os rabiscos que a Natureza faz, como as ondas concêntricas na superfície de um lago, como a rabiscar um caderno de folhas limpas... a Natureza é o espetáculo perene, a cada segundo renovado, constante, inusitado, inimitável... em todo campo ou oceano, e mesmo nas cavernas e nos grotões, oferece o show, mesmo nos lugares onde não haja olhos para observar e aplaudir, mesmo aos monstros abissais, na escuridão dos precipícios marítimos ela se enfeita de luzes que piscam, sendo ela seu palco e sua platéia, levando a todos e para sempre a esperança do que venha a ser a primavera.

Verdade e liberdade
Pressentimos a verdade, seu cheiro, seu tom, um vento soprando na janela anuncia sua chegada. Um silêncio que aprofunda e escurece a madrugada, é a verdade se propagando no profundo sono dos homens, estranha, infinita, redentora substância intocável, o sangue em fluxo eterno bombeado pelo coração do mundo. O espírito da verdade não suporta aglomerações, burocracias, imposições. É rápido, efêmero, paradoxalmente eterno, com graves dificuldades de reprodução. O espírito da verdade cavalga o corcel da liberdade.

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