Quando troca Waldyr Pires por Nelson Jobim, o presidente Lula muda pouco ou nada. Tira um político acuado e coloca um falastrão que, como o antecessor, não reúne as credenciais ideais para o posto. Deveria ter escolhido alguém da própria comunidade de defesa ou extinguido o ministério, devolvendo o status ministerial às três armas. É infeliz a comparação feita pelo novo ministro, de que o Brasil já teve um ministro da Saúde que não era médico e, portanto, o da defesa não precisa ser do ramo. O ex-ministro José Serra, da Saúde, atuava como administrador e planejador sem jamais se imiscuir na atividade-fim (atender pacientes, fazer cirurgias ou emitir receitas), mas o ministro da Defesa é obrigado a meter a mão na massa e tomar decisões de alta responsabilidade, muitas vezes sem tempo para pensar nem planejar. Cabe-lhe, por exemplo, decidir o que fazer em riscos de segurança, invasão do espaço aéreo ou qualquer outra agressão que o país venha a sofrer. Se decide errado ou retarda o procedimento, os prejuízos são imensos. Um autêntico ministro da Defesa jamais permitiria que titulares de outras pastas, nem mesmo o presidente da República, se imiscuíssem nos setores sob sua subordinação para fazer negociação ao estilo sindical e arranhar os regulamentos militares, conforme o ocorrido no caso dos controladores de vôo. Nem assistiria impassível aos órgãos sob sua coordenação aplicarem elevadas somas no embelezamento de aeroportos e negligenciarem na segurança de vôo. Foram necessárias 350 mortes em dois pavorosos acidentes aéreos para o presidente da República remover o ministro que não deu certo e, finalmente, decidir consertar o setor aéreo "gastando o que for preciso gastar para dar tranqüilidade à sociedade", segundo declarou. Resta agora torcer para que o novo ministro, sacado por Lula entre os companheiros do meio político, tenha competência, força e liberdade para cercar-se de gente do ramo e desmontar as caixas-pretas de incompetência (talvez de corrupção) hoje existentes em órgãos sob sua coordenação. Com os recursos que o presidente promete liberar para o setor, o ministro Nelson Jobim tem a obrigação de devolver a segurança e a tranqüilidade ultimamente perdidas pelos passageiros de avião, hoje tratados como uma verdadeira boiada nos aeroportos de todo o país. Aeronáutica, Anac, Infraero e companhias aéreas têm de voltar a falar a mesma língua e, principalmente, respeitar o usuário. Em tempo: não é aconselhável que o novo ministro invista suas fichas na desmilitarização do controle de vôo. Em seu currículo já existe a tentativa frustrada de desmilitarização das polícias estaduais, quando foi ministro da Justiça. Se tivesse dado certo, sem dúvida, teria sido mais um complicador para a crise da segurança pública brasileira. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).
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