Hoje (28/07) fui ao aeroporto de Congonhas. A pista que vem do Parque do Ibirapuera estava interditada à altura da ponte sobre a Avenida dos Bandeirantes, provocando grande congestionamento. Na volta pude ver os escombros no local onde o avião da TAM caiu. Clima de horror. Percebi luto no olhar das pessoas que vi no aeroporto, elas estavam mais caladas, mais reverentes. Só Lula e sua troupe se divertem com a miséria alheia, como bem deram mostra na posse do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim. A posse do ministro é um fato novo que precisa ser analisado. Minhas análises anteriores apontavam para um esforço do PT e de Lula para arrumar um jeito de permitir nova reeleição, visto que naquele partido não há ninguém capaz de superá-lo em carisma junto ao eleitorado. A sucessão de escândalos mostrou-se fato político irrelevante, nada atingindo Lula. Mas o caos aéreo causou grandes estragos, traumatizando a população brasileira, especialmente depois da queda do segundo avião, o da TAM (o primeiro, da GOL, pode ter parecido fatalidade e ocorreu bem longe dos centros urbanos). As imagens televisivas causaram grande impressão e não mais pareceu possível aos estrategistas do Planalto empurrar com a barriga: Lula ficou irremediavelmente condenado pelos acontecimentos, assim como Marta Suplicy e seu descarado “relaxa e goza”. A ministra do Turismo enterrou ali sua candidatura à prefeitura de São Paulo, palco dos horrores da queda do avião. As vaias sucessivas dirigidas a Lula na abertura dos jogos Pan-Americanos já pressagiavam o descenso de sua popularidade entre as classes superiores, que não dependem das bolsas do governo e ainda guardam algum discernimento político. Tirando uma ainda remota chance de um golpe palaciano, Lula terá que passar a faixa presidencial a um sucessor eleito. É aqui que entra a figura de Nelson Jobim, que nunca escondeu sua pretensão presidencial. Tem a faca e o queijo: uma grave crise administrativa sob a pasta da Defesa, os poderes delegados para enfrentá-la e os recursos necessários para tanto. E uma história pessoal no meio jurídico que o credencia. Poderá emergir dessa crise consagrado como administrador público, dispondo do suporte que a mídia tem lhe dado. Ele foi escolhido para eventualmente ganhar as eleições. Jobim é o nome para unir as esquerdas na eleição, mas obviamente tirará do PT a hegemonia de que hoje dispõe. Não é de estranhar que ele tenha servido ao governo FHC, pois na verdade do ponto de vista programático tanto o PT como o PSDB se confundem, separando-os apenas o ímpeto ansioso e a incompetência administrativa do PT, não as idéias socialistas e distributivistas. Jobim não discorda essencialmente do programa político do PT. As coisas da política são como as ondas do mar: vão e vêm. Se o PT não fosse tão incompetente e não tivesse tanto descaso com a Administração Pública o desfecho poderia ser outro. Quis o destino que a incúria superasse o apetite político e os planos, todavia. É esperar para ver se os dirigentes nas sombras, os totalitários que são representados por José Dirceu e por Marco Aurélio Garcia, ficarão passivos diante da possibilidade de ficarem em segundo plano. Essa gente sabe que não controlará pela segunda vez a Presidência da República dentro de um prazo razoável. Eu ainda pago para ver. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP.
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