Nesta crise anunciada da aviação comercial fica claro que homens e aviões precisam de muitos e melhores cuidados. Parece que essa certeza básica não está sendo considerada por seus dirigentes públicos e privados. Desde que Santos Dumont voou em Paris em 1906, com o seu “14 Bis”, que o Brasil tem procurado ser uma referência na área. Na primeira metade do Século XX, a aviação era uma atividade perigosa, mas romântica. Até o escritor francês, Antoine Sainte-Exupéry (O Pequeno Príncipe, Correio do Sul, Vôo Noturno etc.) era piloto comercial. Exupéry era triste, como também o eram Santos Dumont e Pinto Martins. Hoje, nada de romantismo, apenas empregos e tragédias. Mas, os pilotos continuam tristes. Na infância, convivi com pilotos – meu pai era um deles – e pude ver que eram audaciosos e imaturos. Depois, como passageiro, estive em avião da TAP que fez pouso forçado, após emergência, em Las Palmas. Nesse episódio, vi o descortino do comandante e tripulantes. Eles tinham uma crise e precisavam decidir. Demorou 90 minutos, mas pareceu uma vida. Agora, com o acidente do Airbus da TAM, precedido de avisos, desde a queda do avião da Gol no ano passado, ficou claro que os homens da aviação precisam ser melhor cuidados para ter calma e decidir em emergências. Mas, os pilotos lutam contra o desemprego (Transbrasil, Vasp e Varig demitiram) e as novas empresas são vorazes na maximização do uso de seus equipamentos. Há ainda o caso dos controladores de vôo. Têm apenas o nível médio e três categorias: militares (sargentos), funcionários públicos civis e CLT. É uma mistura explosiva com salários diversos e lutas sindicais. Do mesmo modo, os pilotos comerciais só têm o segundo grau, estudam em apostilas, aprendem a voar por instrumentos e obtém brevês de piloto em aeroclube, não em faculdade. Os aviões, mantidos em terra, voam no limite, apresentam defeitos, são consertados por mecânicos mal remunerados, e usam aeroportos construídos e gerenciados por leigos, indicados por políticos. Dá no que deu. Por que não entregar tudo ao ITA ou à Embraer, que constrói aviões, mas não o do Presidente?
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