Anabel deu o que tinha de dar - e deu muito de si, diga-se de passagem. Durante os últimos seis, sete anos, mandou recados para amigos, simpatizantes, antipatizantes, namorou no meu lugar, ganhou meu sustento, enfim, foi um alter ego para lá de legal. Mas eu cresci e ela envelheceu. A perua saiu da moda, foi expulsa pelas cachorras, chuchucas, enfim, todas as figuras femininas inventadas nos últimos tempos e que tomaram o espaço. Pelo meu lado, além dos inevitáveis pés de galinha, ganhei mais segurança como escritora e resolvi encarar o batente ancorada em mim mesma (ai, ai). Ainda busco uma forma de fazer coluna e pode ser até com um novo personagem. Como por enquanto nada sai de minha cabeça quase oca, vou continuando com o Diário, sem perua. Ele vai ser um posto de observação atrasado ou adiantado, só o tempo dirá, como qualquer outra coluna do mundo. Anabel me faz falta e pode ser que algum dia volte, mas repaginada. Como perua não mais, creio. Alimentar o senso de observação da elementa me faz ter de freqüentar bares, noitadas, baladas das quais ando meio cansada. Na verdade estou em fase muito caseira, pouco condizente com o personagem. Anabel também vai descansar. Pode ser que ela arrume um novo emprego, como a Diarista, que se despediu das telas da Globo na última terça-feira e virou garota propaganda do governo de São Paulo. Alô, governador José Serra, se houver interesse Anabel pode voltar para anunciar alguma nova maravilha do Fundo de Solidariedade ou de qualquer outra iniciativa em que os marqueteiros palacianos queiram encaixar a garota. Essa oferta vale também para outros estados, municípios e federação. Como a perua é ligeiramente apartidária, ela ainda não encontrou espaço nem no Cansei nem no Cansamos, quem cansou fui eu depois de todos esses anos de convivência. Ruth Barros agradece Anabel Serranegra por todos os bons serviços prestados Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro "Os florais perversos de Madame de Sade" (Editora Rocco).
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