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Opinião
08/08/2007 - 09h01
Fuga do paraíso
Ipojuca Pontes - MSM
 

Como era previsível, atletas e técnicos que integravam a delegação de Cuba no Pan-Americano do Rio aproveitaram uma brecha e deram no pé, “ou seja” (royalties para Lula), debandaram em definitivo do Paraíso Caribenho, esculpido a golpes de sangue pelo Dr. Fidel Castro. Alguns sites dão conta de que passam de dez os atletas foragidos, mas oficialmente o governo da ilha só reconhece quatro desertores, a saber: os boxeadores Erislandy Lara Ortiz e Guillermo Rigondeaux Santoya, o jogador de handebol Rafael da Costa e o treinador da equipe de ginástica, Lázaro Lamelas.

De fato, dos quase 400 integrantes da delegação cubana no Pan-Americano do Rio, entre atletas, chefes de equipes, jornalistas, espiões e policiais, era previsto uma debandada geral. Segundo deu a entender um dos boxeadores, retidos quinta-feira em Araruama, Rio de Janeiro, a fuga em massa não ocorreu por três razões distintas: 1) o controle dos passaportes nas mãos dos chefes de equipe; 2) a forte vigilância do aparato repressor na Vila Olímpica; 3) o medo de represália aos seus familiares atados aos grilhões da ilha-cárcere. Uma quarta razão, preponderante, foi a urgente medida tomada em Havana pelo ditador de antecipar em um dia o embarque da delegação cubana – o que frustrou a iniciativa de dezenas de deserções, articuladas nas poucas horas em que os atletas tiveram, na Vila, livre acesso à internet.

Por sua vez, diante da possível fuga em massa dos membros da delegação cubana, era inteiramente previsível a medida tomada pelo Líder Máximo. Já na sua “Terceira reflexão sobre os pan-americanos”, publicado no “Granma” de 23/07/07, o Dr. Castro, ao saber das deserções, considerou, na sua conveniente paranóia antiamericana, que “A traição por dinheiro é uma das armas prediletas dos Estados Unidos para destruir a resistência de Cuba”. E fingindo ignorar os anseios pessoais de liberdade que levaram os cubanos à fuga, justificou: “Na Alemanha existe uma máfia que se dedica a selecionar, comprar e promover pugilistas cubanos nas competições esportivas internacionais. Usa métodos psicológicos refinados e muitos milhões de dólares”. “É preciso tomar cuidado” – advertiu.

Não é preciso ressaltar que o provecto tirano usa o esporte como um desavergonhado instrumento de propaganda do regime sanguinário. No seu entendimento, os atletas não são indivíduos livres e qualificados, ou pessoas com o simples direito de ir e vir mas, sim, “campeões da dignidade, da honra, do decoro e da moral da Revolução”. Despudorado na sua cegueira totalitária, o Dr. Castro, com as medalhas angariadas nas competições esportivas, pretende demonstrar a superioridade da moral revolucionária na pretensão de camuflar aos olhos do mundo a miséria física e espiritual que se abate sobre a ilha.

Para esclarecer melhor a questão do esporte em Cuba, convém dizer que os atletas de Fidel, para manter o engodo de “La Revolución”, são tratados como cidadãos acima dos demais: suas “tarjetas” (cadernetas de compras) são privilegiadas, têm direito à habitação, transporte, alimentação, vestuários especiais – e, por vezes, acesso às lojas reservadas aos turistas portadores de dólares. Um desses atletas, jogador de beisebol que fugiu para os Estados Unidos, concedeu depoimento ao jornal Miami Herald, nos anos de 1990, revelando que um dos seus muitos sofrimentos, quando em Havana, era ver os familiares carentes, cronicamente esmagados pela fome, enquanto recebia tratamento diferenciado.

Na visão de Fidel Castro, distorcida pela insanidade ideológica, os atletas que fugiram não passam de “traidores”. No entanto, para os que, na ilha-cárcere, se esfalfam no trabalho mal-remunerado e suportam o sofrimento diário sem a mínima esperança de dias melhores, ou ainda se dissolvem na luta pela sobrevivência em meio à miséria, pequenos expedientes, roubos e o permanente apelo à prostituição - os atletas desertores são vistos como heróis afortunados que só causam inveja e admiração. Quem são eles? Bem, refiro-me em primeiro lugar aos milhares de infelizes que, periodicamente, sem regalias e as mais elementares liberdades civis, preferem buscar o futuro incerto nas águas revoltas do Caribe, muitas vezes sem atingir a terra dos sonhos distantes – os Estados Unidos da América – do que permanecer no Paraíso comunista de Castro.

Como assinalou a jornalista francesa Lysiane Baudu, em “Uma transição improvável”, para Castro o princípio da realidade não existe. O desejo de alguém, fora da Ilha, aproveitar oportunidades, ampliar conhecimentos técnicos e humanos ou mesmo bater asas e voar rumo ao desconhecido é para ele uma adesão ao “imperialismo ianque”. Há décadas Castro vive entoando essa lengalenga infernal, sem dúvida na pretensão vazia de justificar o absoluto fracasso de sua revolução – revolução que, verdade seja dita, depois da derrocada da União Soviética não parou de gerar sofrimento, dor e humilhação ao povo cubano, esfacelado psicológica e moralmente pelo confinamento interminável imposto pelo tirano petrificado.

No final de julho, enquanto o Líder Máximo acalentava no “Granma” a choradeira habitual, o irmão, Raul, “El Chinesito”, durante mais uma comemoração do fracassado golpe de Moncada, reconheceu de viva voz que a ilha atravessa “momentos difíceis” e que “são necessárias urgentes reestruturações no modelo produtivo”. Em seguida, pediu penico e abriu o jogo: “Se as novas autoridades americanas desejarem acabar com a prepotência e decidirem conversar de modo civilizado, serão bem-vindos”.

A resposta do porta-voz do Departamento de Estado Americano, Sean McCormack, foi imediata: “O governo de Cuba necessita dialogar é com o povo cubano. Infelizmente, neste momento, não há diálogo em Cuba”.

Bateu na lata


O advogado da empresa alemã Arena, Rafael Villena, que procurava arranjar visto de saída para os dois atletas foragidos numa praia do Estado do Rio, teme que eles sejam reconduzidos à Cuba, onde certamente comerão o pão que o diabo amassou. Vamos aguardar.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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