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SEÇÃO
Crônicas
15/08/2007 - 12h08
Assalto a crédito
Júlio Nóbrega
 

Petê estava bêbado. Jovem, 24 anos, intelectual devorador de livros, amante de pintura e astrologia, foi a Goiânia com amigos em busca de diversão e prazeres fortuitos. O objetivo era vivenciar as emoções que a nova vida de solteiro, adquirida há dois meses após término de relacionamento longo, lhe proporcionara.

Terminada a festa a fantasia com open bar, onde acabara de participar de alguns beijos sem nome, Petê, ainda com consciência segura, chamava D.J, amigo que integrava o grupo da farra, e lhe entregava a chave do carro. Às 5h da manhã, os dois zarpavam do agito em busca do hotel, do descanso e da ressaca, sem saber que dor de cabeça maior viria dias depois.

No caminho, Petê era a tranqüilidade afogada em sono pesado e no encosto do banco do carona. D.J, apenas em efeito entorpecido resultante de generosas doses de vodka, guiava o automóvel sem saber o correto rumo do hotel. Com memória esquecida, potencializada pelo álcool, ficava difícil e demorado encontrar o destino. Ainda sem contar com um navegador, desmaiado ao lado, D.J buscava forças para lembranças e manutenção do foco visual.

Porém, com todas as adversidades, o motorista ainda possuía certo entendimento sobre as condições externas. Graças a elas, avistava o semáforo vermelho, às 5h20, em uma via sem movimentação alguma. Com carro lento, observava também dois sujeitos de aparência nada amistosa, surgidos do nada e que corriam em direção ao carro. "Caramba! Assalto? Não sei", pensou.

Sem titubear, graças a considerável dose de adrenalina jorrada no organismo, D.J arrancava. Cruzou o sinal, fugiu dos suspeitos e retomou a busca ao sonhado hotel para descanso da balada. Mas, com o retorno da calma, voltavam os efeitos etílicos. Novamente, seria mais difícil do que já era encontrar o repouso.

Sem se dar conta, D.J repetia trajetos e voltava a passar pelo local do hipotético crime. Na mesma reta do semáforo das 5h20, só que agora em sentido contrário da via, D.J voltava a avistar os suspeitos, absolutamente sozinhos entre os prédios. Não havia outro sinal de vida humana ao redor. Assaltantes? Criminosos? Perguntas sem resposta, que causavam medo pela hipótese.

Era a situação de pânico de minutos atrás no espelho. A cena era a mesma. Mudava apenas o lado, a direção. Após mais um ensaio de aproximação dos prováveis perturbadores, restava ao amigo da vez uma pisada mais funda no acelerador e outra cruzada de sinal vermelho, rubro para o vento e os espíritos. Mais uma vez, o provável herói D.J, condutor do "bebum", provavelmente salvava a própria pele, as carteiras, o carro e a integridade física de Petê, mergulhado no sono alcoólico.

Dias depois, terminado o drama, Petê ria no bar com alguns dos amigos presentes naquela festa a fantasia. Contara que havia dormido como nunca, enquanto D.J, ausente na confraternização, enfrentava o desconhecimento das ruas goianas, os efeitos etílicos e o medo de assalto. Porém, não esquecia de lembrar que o amigo teve precisão e coragem para evitar uma possível abordagem.

Conta paga e o caminho de casa era tomado. Já no térreo do bloco onde reside, Petê lembra de passar na caixa postal. Ao abrir, surpresa. Lá estavam duas multas de trânsito, de remetente DETRAN - GO. Em casa, o jovem abria os envelopes e verificava as fotos do automóvel, tiradas por uma câmera de fiscalização eletrônica provavelmente posicionada ao lado do semáforo, além de informações como data, hora e laudo da infração.

No campo destinado ao laudo, nas duas multas, a especificação em letras garrafais: GRAVÍSSIMA. Tamanha gravidade se dava graças às duas ultrapassagens de sinal vermelho realizadas por D.J, ações que agora proporcionariam um prejuízo da ordem de R$ 900,00. Mal saía ileso de um possível assalto e já se deparava ali com outro, via correio. Como tivesse tido a chance de pagar pecados no débito e preferido o crédito, com juros altos.


Nota do Editor: Júlio Nóbrega é jornalista.

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