A rua de pedras que se aqueciam ao sol queimava os pés delicados de Maria, uma pura jovem menina que, moradora daquela vila pobre, vivia no anonimato. Não tinha mais que três vestidos: dois para o dia-a-da e um para ir à missa, algumas peças íntimas e um sorriso de invejar as demais jovens daquela comunidade distante da sede, que nem a distrito ainda havia sido elevada. Serena, descalça cruzava aquele caminho de sempre, para ir até a escola de Esperantina, que conforme seu nome inspirava, era a esperança daquele grupo de adolescentes que, de doze e dezoito anos da mestra, sugavam seus conhecimentos. Ela, já senhora de quarenta anos, volta e meia sumia em direção ao distrito-sede, onde ia buscar atualização, novos livros, e trazia cadernos a serem distribuídos graciosamente. Maria tinha quinze anos, três de aulas em Esperantina, e dois anos depois que lhe veio a menstruação. Começou, então, a pensar em ser mulher, ter filhos, pois assim é o desígnio da mulher: ter filhos e filhas, ajudar na obra divina de habitar o mundo. Tão distante das movimentações das cidades maiores, Maria não sabia o que era pecado. No dia em que praticasse o sexo, para ela seria o dia do amor! Os demais alunos e alunas que freqüentavam a mesma sala multisseriada, e que calçavam havaianas ou congas, tinham meia-dúzia de camisas ou mais três vestidos. E olhavam com desprezo para Maria. E menos ainda gostavam dela por sua capacidade de redação, por sua popularidade junto a algumas pessoas da cidade, que visitavam a vila periodicamente, e ainda mais, pela tanta atenção que achavam que dona Esperantina estaria dando àquela menina dos olhos verdes, outra causa de inveja. Ela, Maria, até então não havia sido abraçada por nenhum homem, a não ser seu pai, antes de morrer, e de deixá-la órfã, nos braços da mãe, cujas mãos nunca a deixaram sem afagos. Até um dia em que apareceu na cidade Gabriel. Vinha da cidade grande, da capital. Vinha fazer o censo daquela pequena comunidade, cujos habitantes, colocados em filas, não dariam um quilômetro. Fácil de contar! Gabriel olhou Maria pela janela aberta. Seus olhares criaram, entre eles, um ar de amor. O censo acabou. Gabriel voltou ao céu da cidade grande. Maria não revelou o milagre, mas em um dia de um mês qualquer, caminhando descalça pela rua de pedras, com sol a pino, a mulher que sonhava um dia ser mãe, alcançou seu milagre: Jesus foi o nome escolhido. A vida simples de Maria, e seu poder de estudar e de escrever, a fizeram substituir Esperantina, cujo céu do firmamento a abrigou. Ela deixou a vaga daquilo que chamava de escola, onde hoje estudam outros alunos, que a respeitam como mestra, e onde também aprende Jesus! Nota do Editor: Seu Pedro é Pedro Diedrichs, apenas um repórter, seu currículo é humilde como Maria, a personagem, e como ela olhado de banda por outros alunos da vida!
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