"O PT assinou em maio de 2007, em Damasco, um acordo de cooperação com o Partido Baath Árabe Socialista da Síria, para trocar idéias e pontos de vista a respeito de causas comuns e coordenar posições em congressos e fóruns internacionais. O partido Baath encabeça há décadas em seu país um regime autoritário que desconhece o respeito pelos direitos humanos", disse o Centro Wisenthal, que tem sede em Los Angeles, numa carta ao presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e ao secretário de relações internacionais petista, Valter Pomar”. (Site de Diogo Casagrande,em 4/8/2007). Como todo mundo sabe, Berzoini, o Cruel, é aquele que queria que os velhinhos de mais de 90 anos e em cadeira de rodas comparecessem a postos do INSS para provar que estavam vivos, sob pena de não receber suas merrequinhas no fim do mês. E Pomar, como todo mundo sabe, é aquele que nunca deu bons frutos. A referida carta do referido Centro expressa profundo e doloroso desapontamento: (...) “Causa decepção que um partido como o PT tenha validado as regras do estado de direito para chegar à Presidência do Brasil, e omita a promoção da democracia entre os valores indispensáveis no momento de estabelecer seus acordos de cooperação a nível internacional. O Baath encabeça um regime autoritário que desconhece o respeito pelos direitos humanos.” (O Globo, 3/8/2007). Em primeiro lugar - ao contrário do ponto de vista do Centro Wiesenthal – a mim não causa nenhuma decepção, simplesmente porque não posso ficar desapontado em relação a algo em que jamais acreditei nem nutri nenhuma expectativa, a não ser a do pior. Em segundo lugar, por outra razão, discordo do ponto de vista de Walter Pomar que esteve algum tempo na Síria e não sentiu que o regime fosse totalitário ou antidemocrático. De fato, assim como Zé Dirceu, Luis Carlos Prestes, Oscar Niemeyer, Chico Buarque et caterva, estiveram em Cuba e também não sentiram que o regime fosse uma ditadura. Como se sabe, para eles “ditadura” é sempre coisa da direita e en Cuba no hay prisoneros políticos, hay inimigos de la Revolución, como ha dicho muy bien El Coma Andante de Cubanacan, La Perla del Caribe. Em segundo lugar deve ser certamente uma infeliz coincidência, mas o fato é que Baath é o nome do partido de Satã Hussein, manda-chuva do Iraque ou aquele que mandava chover cobras e lacraias no país de araque. E como chovia! É sabido que, pouco tempo após a tomada do Poder, Satã Hussein não teve mais oposição, pois ele empregou um sutilíssimo método de persuasão: marcou um encontro com a oposição e metralhou todos os seus membros. Sem oposicionistas não há partido de oposição, assim como sem pobres não há pobreza. Logo: eliminemos ambos pobres e oposicionistas. Em terceiro lugar, todos os países muçulmanos são ditaduras, soft ou hard, mas todos regimes totalitários, com a possível exceção da Turquia, o único país muçulmano que se modernizou e se tornou democrático. Tanto é assim que ela se sente mais européia e ocidental do que asiática e muçulmana. E a maior prova disso é que deseja ardentemente entrar para a Comunidade Européia, como o Brasil almeja sofregamente entrar para o Conselho de Segurança de ONU. Porém, por diferentes razões, ambos podem ir tirando seus cavalinhos da chuva... Além disso, posso imaginar muitas coisas que o Brasil pode oferecer a Síria, mas não consigo imaginar que tipo de coisa a Síria poderia oferecer ao Brasil, a não ser sírios (mas isto já temos bastante), quibe (mas isto já aprendemos a fazer com os sírios que temos), dança do ventre (mas isto é uma importação que pode perfeitamente ser substituída pela similar nacional: a dança das popozudas do Bonde do Tigrão), para estar de acordo com as idéias protecionistas cepalinas tão admiradas pelo idiota latino-americano. No entanto, tem toda a razão o Centro Wiesenthal em manifestar seu desagrado em relação ao acordo Brasil e Síria em virtude da natureza do alinhamento da política externa brasileira. Como - diferentemente de 99,9% dos nativos de Pindorama - não comemos raízes de lótus na Ilha dos Lestrigônios, lembramo-nos muito bem que - lá pela década de 60 do século passado - a Síria se aliou ao Egito, para formar a República Árabe Unida (RAU) e isso foi no tempo do faraó Akhnaton, perdão: Gamal Abdel Nasser. Feita a aliança, a primeira coisa que a RAU fez foi invadir o território de Israel provocando uma guerra absurda. Os muçulmanos foram postos para correr graças às forças armadas de Israel sob o comando do general Moshe Dayan. Mas os islamitas jamais abandonarão seus dois sonhos dourados: (1) aniquilar Israel, único país moderno e democrático no Oriente Médio e (2) varrer da face da terra a sacrílega e devassa civilização dos infiéis liderados pelo Grande Satã (leia-se: Tio Sam). Resumo da ópera: o PT está para o BAATH, assim como o sapatinho de vidro está para o delicado pezinho de Cinderela. Foram feitos um para o outro... Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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