O Brasil, que andou em baixa, voltou a ser a oitava economia do mundo. Só tem à sua frente os países ricos, do seleto G-7, posição que já havia sido conquistada nos anos 70 e depois perdida. No entanto, isso não é motivo para festa porque esse resultado não vem acompanhado da contrapartida da distribuição de renda. O nosso país, como resultado de uma perversa política econômica, é o 62º no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) apurado pela ONU, ficando atrás de muitos países e economias pequenas, porém respeitadoras de seus cidadãos. Atrás de nós, só os miseráveis da África. Temos um país rico para poucos privilegiados, mas miserável para muitos, além de um governo que impõe à classe produtiva e ao cidadão uma das maiores cargas tributárias do mundo e não oferece os serviços de sua responsabilidade. Não dá saúde, educação, moradia, emprego e nem coisas básicas, que a simples condição de cidadão deveria garantir ao indivíduo. Aposentado no Brasil, que deveria ser motivo de respeito e dignidade, é símbolo de miséria, a não ser quando o titular do benefício é um daqueles que sujaram a mão de sangue ou por algum motivo foi reprimidos nos ditos anos de chumbo, é parlamentar, ou ainda integrante de uma das poucas castas que conseguem manter altos proventos, via de regra, às custas dos cofres públicos. Ao aposentar-se, depois de 30, 35 ou mais anos de atividade, o trabalhador da iniciativa privada vê sua renda reduzir drasticamente em função das "contas de chegar para baixo", feitas pelo INSS em relação às suas contribuições. E o funcionário público sofre as políticas restritivas dos governos que usam todos os ardis para negar-lhe o direito, fixado pela Constituição, de receber o mesmo salário dos servidores da ativa no mesmo cargo. Os inativos e pensionistas da Polícia Militar do Estado de São Paulo, por exemplo, receberam só 40% de reajuste ao longo dos últimos 12 anos, quando a inflação nominal passou dos 100%. E o governo ignora seus reclamos! Quando em campanha, os políticos fazem as mais pungentes promessas e arrebatam o voto. Depois de investidos nos cargos, esquecem tudo. Os ocupantes do Executivo comportam-se como verdadeiros carrascos; e os do Legislativo - que deveriam representar o povo e defender seus interesses - fazem vistas grossas, como se tudo estivesse conforme o compromisso por eles assumido com o eleitorado. Esses senhores, cuja imagem é cada dia mais corroída, não deveriam se esquecer do dito em campanha. Mas, antes mesmo de serem políticos, deveriam reconhecer o aposentado como um patrimônio da Nação. Foi ele que, com o seu suor - muitas vezes até o sangue -, construiu o desenvolvimento do país. Além das contribuições que pagou aos órgãos previdenciários, movimentou a economia, as empresas progrediram e pagaram seus impostos. Ele fez este país. O aposentado não pode ser ignorado, especialmente quando, idoso, já não têm mais forças nem oportunidade para trabalhar e, muitas vezes, ainda é obrigado a conviver e a ter despesas com moléstias adquiridas durante o exercício profissional. A oitava economia do mundo deveria honrar aqueles que a construíram. Mas, lamentavelmente, seus incompetentes administradores os penalizam como se fossem os culpados das mazelas nacionais. Isso precisa mudar, antes que o resto de paciência do pacato cidadão brasileiro acabe, e nem as esmolas que o Governo tem dado aos menos afortunados, sejam capazes de acalmar a fúria da turba... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).
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