No ano de 1994 me conectei à Internet, e desde então nunca mais estive fora dela. Acredito que teria dificuldades para exercer o meu ofício de escriba, caso não dispusesse desse recurso quase mágico. Outro dia isso ficou claro, minha mulher que é professora de Inglês trabalhava na confecção de uma aula sobre as descobertas marcantes do século XX. O tema era a penicilina. Ela levantou-se e foi até a estante consultar a enciclopédia. Enquanto procurava o verbete, depois de selecionar o volume pela ordem alfabética e limpar o pó acumulado, entrei num site de busca e, em segundos, tinha nas mãos, impressa, uma página com o resumo do que ela precisava. Nos milhares de sites disponíveis, havia a possibilidade de aprofundamento, não era o caso. Mesmo ela, que é usuária da Internet, ficou surpresa com a rapidez da informação. Esse é o ponto marcante da rede, a velocidade e a diversidade das informações. Depois do advento da banda-larga, eu deixei de assinar dois jornais diários, o que fiz durante muitos anos. Não tenho mais necessidade deles. O que é noticiado no mundo está disponível na Internet, sem os filtros dos interesses dos donos da imprensa tradicional. Aliás, vou fazer uma previsão que não vai agradar aos "coronéis" da informação. Os conglomerados de mídia, na forma atual, desaparecerão em poucos anos. Terão de adaptar-se à nova realidade em que o produto informação está sendo democratizado pelos custos baixíssimos da tecnologia digital. Não há mais a necessidade de pertencer aos quadros de um jornal, revista, rádio ou emissora de televisão para um cidadão produzir e divulgar informações. É suficiente ter uma página na Internet. O sucesso dependerá do conteúdo. Quem não possuir talento desistirá, entretanto muitos que estavam à margem, terão espaço para dar o recado. Sensível a isso o presidente Lula, vem abordando o tema inclusão digital de forma recorrente. Ele sabe que é quase impossível promover o desenvolvimento do país sem a Internet. O presidente tem dito que é preciso baixar os custos dos computadores e do acesso à rede. Isso tornaria o universo digital disponível aos brasileiros, na maioria incapazes de arcar com os preços atuais. Lula falou inclusive na possibilidade de subsídios, o que seria sensato, subsidiamos tantas outras coisas, poderíamos subsidiar a inclusão digital. Um dado deve, entretanto, ser levado em conta pelo Presidente. Para haver a inclusão digital, não basta disponibilizar computadores e acesso à rede. Isso é uma das tarefas. A outra é cuidar das cabeças que estarão na frente dos computadores. Usuários da Internet precisam saber ler e escrever. Para ser utilizada como instrumento de desenvolvimento, a rede nos obriga a fazer uma profunda reflexão sobre os rumos da educação no país. Há que haver transformações de monta nos caminhos atuais. Precisamos de mais eficiência, mais ação e menos teoria. Senão, nada feito. Sem preparo para o salto qualitativo da Internet, o povo vai desistir antes de começar. Os computadores que promoveriam a inclusão acabarão como meros suportes para vasinhos.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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