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Opinião
30/08/2007 - 19h06
Me engano, logo existo
Dartagnan da Silva Zanela
 

Não há equívoco maior do que a crença disseminada na modernidade de que a objetividade do conhecimento é algo impossível de ser atingida. É muito comum vermos pessoas afirmarem que a verdade não existe e que, se existisse, seria apenas uma mentira bem contada. Ou então, vermos em textos de caráter acadêmico o conceito de verdade entre aspas no intuito de diminuí-la.

Tais ponderações extremamente comuns nos dias atuais nada mais refletem do que a crença que nega a possibilidade da pessoa humana ser capaz de conhecer e aprender, mesmo que contradiga a possibilidade dos mesmos indivíduos que afirmam essa impossibilidade com tanta “certeza” e “objetividade”.

Tal postura leva a morte lenta e gradual de toda a herança civilizacional que nos foi legada por gerações e gerações que nos antecederam e, este patrimônio cultural, é a grande salva-guarda da liberdade individual. Isso mesmo. Se hoje somos livres não é pelo fato de termos tido um legislador demiúrgico ou devido a generosidade de algum estadista ou grupo de intelectuais, mas sim, devida a longa tradição que nos foi legada, na qual, refletimos e aprimoramos nossas ações.

Todos os valores tradicionais tinham esse papel de proteger o indivíduo contra as forças temporais. As grandes tradições religiosas cumpriam, cada qual a seu modo, o papel de preservar esse patrimônio cultural e, desta maneira, preservava a sacralidade da vida humana. Todas as sociedades tradicionais viam os seus membros como descendentes diretos de algum ser Divino e, sob essa descendência, edificavam todo o seu sistema de valores que passava a dar sentido a existência destes indivíduos, protegendo-os dos abusos possíveis.

Com toda certeza haverá um leitor e outro que afirmará que isso seja incorreto. Que o que fundamenta os valores de uma sociedade são as relações econômicas, de sobrevivência e blablablá. Ótimo! Então como você explica as comunidades cristãs primitivas? Como você explica as comunidades protestantes dos séculos XV e XVI? Ou o caso da resistência de algumas tribos indígenas ao processo civilizacional europeu aqui na América? Como você explica a atitude de um indivíduo que sacrifica a sua vida para salvar a vida de uma outra pessoa que muitas vezes é mais fraca que ele? Em todos estes casos não foi nenhum valor econômico ou a mera sobrevivência que levou esses indivíduos a afirmarem as suas comunidades e a nortearem os seus atos, pois, nos quatro casos afirmar-se era literalmente colocar a sua vida em risco, pois, a vida humana, é muito mais que a mera sobrevivência.

Como explicar isso? Porque a vida humana é diferente da dos cães. A natureza da existência humana é muitíssimo mais complexa do que a mera preocupação com a sobrevivência e, de mais a mais, uma sociedade que elevar como bem maior de sua constituição a mera sobrevivência material é uma sociedade fadada a definhar ou a definhar a vida das demais.

E é isso o que vemos ser edificado de modo gradativo em nossa sociedade. Com a destituição dos valores tradicionais que antes se apresentavam como um mapa de símbolos interpretativos da realidade lega-se para a geração atual um grande limbo de significado.

Para suprir este vazio, que até então era ocupado pela tradição, aparecem alguns elementos “iluminados” (políticos, intelectuais, líderes etc.) que se propõe a reinventar a sociedade, reformular a ordem do mundo e, conseqüentemente, refazer a própria natureza humana, visto que, se tudo passa a ter o seu valor relativizado, cedo ou tarde, alguém poderá apresentar algo novo, com maior “importância” para a realização de uma vida melhor e de “um mundo melhor possível”.

A modernidade está repleta de indivíduos que se auto-proclamaram deuses de carne e ossos. Indivíduos estes que, por um forte sentimento de incompreensão da realidade, ou por malícia demoníaca, resolveram reinventar a ordem da vida nem que, para tanto, seja necessário acabar com muitas vidas inocentes.

Não era à toa que Mussolini, Goebbels, Hitler, Lenine, Castro, Stalin, Pol Pot e tutti quanti, julgavam o relativismo moral algo fundamental para se impor e manter uma nova ordem societal. Não é à toa que todas as entidades globalistas como Fundação Ford, Fundação Rockfeller, Fundação Macarthur, ONU et caterva, apóiam toda e qualquer ONG que defenda o dito multiculturalismo.

Estas criaturas, que não são poucas, em seu intento de simular o paraíso, edificam na terra uma versão caquética do inferno que nada mais é do que o reflexo turvo de suas vidas que se fundaram em um emaranhado de enganos travestidos na forma de pensamento “crítico”.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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