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Opinião
02/09/2007 - 19h04
Médico? Professor? Não faça isso, filho!
Ubiratan Iorio
 

Desde tempos imemoriais, bons pais sempre aspiraram ao melhor para seus filhos. É um comportamento inerente à própria condição de dignidade humana, é racional, é emocional, é desejável e é necessário. E assim permanecerá, per omnia saecula saecularum. Por isso - e quem é pai ou mãe sabe exatamente sobre o que estou escrevendo - a escolha da profissão de um filho ou filha é sempre um assunto importante, assim como as do futuro cônjuge, das leituras, dos hábitos, dos gostos e das amizades. Embora sejam opções individuais, pessoais, intransferíveis - porque, como diziam nossos avós, não criamos nossos filhos para nós, mas para o mundo -, temos o direito e o dever de orientá-los ao longo de suas vidas, especialmente quando ainda são jovens.

Lembro-me, por exemplo, da alegria de minha saudosa sogra quando o mais jovem de seus filhos resolveu seguir a carreira de Medicina, por volta do início dos anos setenta, o mesmo júbilo que certamente sentiu quando uma de minhas cunhadas decidiu que seria professora, opção também seguida, alguns anos depois, por minha mulher. E da enorme satisfação de meus pais quando, já formado, comecei a dar aulas em uma faculdade. Mas eram outros tempos, em que o relativismo moral ainda permanecia sob certo controle e, conseqüentemente, as barreiras entre o que é certo e errado e entre o bem e o mal eram bem delineadas, dentro da milenar tradição judaico-cristã ocidental. E em que os políticos, na média, eram bem menos medíocres do que os atuais.

Os pais dos jovens brasileiros destes primeiros anos do século XXI não são diferentes, no que diz respeito às preocupações para com seus filhos, de seus próprios pais, avós e ancestrais mais remotos. No entanto, as coisas andam tão deterioradas na economia, na política, na moral, nos costumes, na sociedade, enfim, que não podemos condenar sua atitude de preocupação, quando alguém que puseram no mundo e a quem dedicam insubstituível amor lhes anuncia que decidiu ser médico ou professor. É evidente que a escolha provoca sadio orgulho e justa esperança, mas também é manifesto que esses agradáveis sentimentos já brotam tisnados por uma forte sensação de dúvida e incerteza e - diremos até - maculados pela nódoa de uma grande preocupação.

Como professores e médicos têm sido progressivamente maltratados no Brasil, desde umas duas décadas! Como vêm sendo humilhados! Como vêm sendo vítimas do crime da deterioração paulatina, ano após ano, de suas condições de trabalho! Como sua dignidade profissional vem sendo crescentemente agredida! Como falta um mínimo de senso de bem comum e de honradez à maioria de nossos políticos! E como têm sido ineficientes e ineficazes os sindicatos de suas respectivas categorias, mais preocupados com os habituais proselitismos partidários do que com os profissionais que dizem representar!

É desnecessário descrever as condições de trabalho e as remunerações médias dos que dedicam suas vidas a transmitir os bens mais preciosos que podemos imaginar: a vida e o conhecimento, a boa saúde e a boa educação, o bem do corpo e o do espírito. Basta olharmos para nossos hospitais públicos e para nossas escolas públicas. Basta sabermos quanto ganha aquele médico que, após tantos anos de estudo e de residência, trabalha com equipamentos deteriorados (quando existem) e apavorado com a iminência de alguma invasão de traficantes querendo resgatar algum companheiro. E é suficiente termos ciência do que vem impresso no contracheque daquela professora dedicada, que muitas vezes precisa levar até o giz de casa para poder trabalhar e que também vive sobressaltada ante a impendência da eclosão, nas cercanias de sua escola, de mais um episódio da guerra entre policiais e bandidos ou porque estes podem "decretar" que, naquele dia ou noite, não haverá aulas, em protesto contra a prisão ou a morte de algum marginal.

E atentar que o atual ministro da Saúde, diante de tanto problemas, preocupa-se com um plebiscito para legalizar o aborto. E atentar que já há hospitais públicos que realizam cirurgias para troca de sexo. E atentar que nesses mesmos nosocômios, por exemplo, os aparelhos para as sessões de hemodiálise não são suficientes para atender aos doentes. Vamos ficar apenas nesses exemplos.

E considerar que os pedagogos de gabinete da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, com a anuência e o incentivo do prefeito (um ex-professor universitário!) está em luta com o legislativo, que colocou óbices à estúpida Resolução SME 946, de 25/4/07, que simplesmente abole o "ótimo" e o "insuficiente" das avaliações escolares. E considerar que, na própria Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, onde leciono, estou sem um computador há onze meses, pois não há recursos para colocarem outro PC no lugar do que estragou. E considerar que muitas professoras têm sido vítimas de violência verbal e física em suas próprias escolas. Fiquemos, também, somente com esses exemplos.

Para que os políticos de todos os partidos, naquela aberração antidemocrática que é o horário eleitoral gratuito, declaram, com a unanimidade dos burros, seu respeito à saúde e à educação? Para que, a não ser para tentar roubar votos dos incautos eleitores brasileiros?

Médico? Professor? Não faça isso, meu filho! Perdeu o juízo? Ficou maluco? Você é brasileiro!


Nota do Editor: Ubiratan Iorio (www.ubirataniorio.org) é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ (2000/2003), Vice-Diretor da FCE/UERJ (1996/1999), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, Professor do Mestrado da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC, Professor dos Cursos Especiais (MBA) da Fundação Getulio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Coordenador da Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC (1995/1998), Pesquisador do IBMEC (1982/1994), Economista do IBRE/FGV (1973/1982). Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP). Diretor-Presidente da ITC - IORIO TREINAMENTO E CONSULTORIA.

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