Como é difícil para o homem moderno compreender o tamanho do fosso moral que cavou e no qual se precipitou. Como é difícil para nós, filhos do século das luzes compreender a absurdos de nossa época frente as demais que nos antecederam. Tal dificuldade é advinda de nossa postura perante o mundo e frente aos nossos iguais, postura essa que consiste em nos vermos como sendo uma espécie de semi-deus, de iluminado predestinado a realizar a justiça no mundo, corrigindo tudo que há de errado e imperfeito neste, pois, nos vemos como sendo criaturas "perfeitas" ciosos por se tornar o criador de um "mundo novo". Essa arrogância do homem moderno é um fenômeno que vem a cada dia que passa ganhando mais e mais corpo. A cada pôr do sol, mais e mais pessoas crêem piamente que todo o mundo a sua volta está corrompido e que elas, deveriam torná-lo melhor para assim poderem ajudar a humanidade construir um futuro melhor. Mesmo que elas não sejam capazes de organizar a sua própria vida. E mais! Essas mesmas pessoas que querem ajudar a humanidade pouco fazem para ajudar as pessoas que estão a sua volta. Essas mesmas pessoas que desejam corrigir o mundo, são incapazes de fazer com mínima maestria o que está sob sua responsabilidade. Essas mesmas pessoas que acreditam que devem fazer brilhar no mundo o sol da justiça, são incapazes de fazerem um julgamento justo e sensato de si mesmas e de seus atos turvos. Como diriam os populares, são pessoas incapazes de enxergar o próprio rabo. Sempre que me defronto com esses reformadores universais, lembro da profunda sabedoria de Deus que, ao criar o mundo, deu ao homem a liberdade de escolher o seu próprio destino, mesmo que isso incorresse na possibilidade de danação. Mesmo sendo onipresente, onisciente e onipotente, Ele deixou-nos a possibilidade de seguirmos o caminho cingido por nossas escolhas. Mas, na modernidade, surgiram pretensos deuses de carne e ossos que, com sua estúpida incompreensão da natureza humana e do cosmo, desejam reinventar o mundo de acordo com sua imagem e semelhança.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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