A notícia de que, para evitar assaltos e outros atos criminosos, os alunos da Escola Estadual Manuel Bandeira, de Perus, bairro pobre de São Paulo, passam os intervalos de aulas confinados no pátio, transformado em campo de concentração, onde enfrentam um quadro de pânico e verdadeiro terror, não chega a surpreender. Apenas expõe a situação caótica a que o governo do Estado relega o ensino, a segurança e praticamente todos os serviços públicos. Apesar da astronômica soma de impostos arrecadados, a União, o Estado e o Município são omissos e só aparecem a reboque das desgraças ou para atuar demagogicamente, com ações paliativas junto ao cidadão que já perdeu tudo, muitas vezes até a dignidade, a ponto de se sujeitar a receber esmolas oficiais. A escola pertence ao Estado, que não faz sua manutenção, não oferece pessoal suficiente para sua operação e nem dá suporte adequado de segurança pública. Tão amedrontados quanto os alunos, os professores recorrem ao extremo de enjaulá-los na esperança de que, com isso, fiquem fora do alcance dos criminosos. Diante do perigo, os mestres não levam em consideração que a emenda poderá ficar pior que o soneto. Que, confinados, os jovens podem adquirir seríssimos problemas psicológicos, super ou subvalorizando a importância da liberdade. Que, se adquiridas, as falhas e seqüelas podem acompanhá-los pelo resto de suas vidas, com danos irreparáveis à conduta pessoal e social. O cárcere de alunos ocorre em Perus, mas episódios igualmente estranhos são comuns em toda a rede escolar, especialmente na periferia. Até as pequenas cidades do interior, como Macatuba, por exemplo, vêm registrando problemas em suas maltratadas escolas. E as autoridades, de um modo irresponsável, fazem ouvidos moucos, agindo como se tudo estivesse bem. Quando muito, para acalmar os pais e a comunidade, levam os casos ao estudo de comissões que nunca terminam, pois são criadas para não funcionar. O governo deveria assumir a sua obrigação de dar ao cidadão ensino de qualidade, segurança pública eficiente, moradia, oportunidade de trabalho e assistência de saúde. Só com isso reduziria em muito os gastos com assistência social, pois a grande maioria da população é composta por gente honesta e trabalhadora. Muitos vão à delinqüência por absoluta falta de oportunidade de uma vida normal. Basta ver como funcionam as escolas e órgãos públicos para se ter idéia da incompetência e omissão do Estado. Tudo é exatamente o contrário do que pregam o governador, secretários e seus apadrinhados políticos. A realidade é dura e cruel, muito distante do discurso. Temos dois Estados: o fantasioso, dos políticos, e o real e dolorido, vivido pelo povo. A escola, celeiro das próximas gerações dá uma mostra do futuro negro que nos espera. Situações como as da escola de Perus, de postos de saúde sem médicos nem remédios, das repartições onde os funcionários são maltratados e por isso não produzem e da polícia que, impedida de fazer greve, trabalha desmotivada e não oferece o mínimo do serviço de segurança que a sociedade necessita, exigem solução imediata. Deveriam receber a atenção pessoal do governador ou de seus auxiliares diretos e, mais que isso, a busca de soluções imediatas. Prometer câmeras de vigilância, reforma do prédio, concurso para pessoal e reforço da ronda policial, não atende e nem conforta o cidadão. Serve apenas para desacreditar ainda mais o poder público e os seus titulares, especialmente aqueles que em todas as eleições vêm pedir o voto do povo, fazem maravilhosas promessas e depois não as cumprem... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).
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