10/09/2025  22h15
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
16/09/2007 - 12h18
Me engano, logo sou lúcido
Dartagnan da Silva Zanela
 

São Dionísio Areopagita, nos ensina que o amor sempre tende a união com o objeto amado. De modo similar, vemos a mesma mensagem nas palavras que nos são apontadas pelo grande poeta Luiz Vaz de Camões que afirmava de maneira sem igual que o amante se torna o ser amado. Este movimento da alma humana pode levar para a elevação do ser ou mesmo a condenação aos grilhões ignóbeis de uma vida sem sentido.

Diante desta bifurcação espiritual, inerente a nossa constituição, acabamos sempre por nos fortalecer a partir do exercício perene das virtudes cardeais, ou nos degradando devido a nossa entrega voraz para todas as súplicas de nossas paixões, nos entregando aos vícios de toda ordem.

Quanto volvemos nossa vista para a dimensão da alma brasileira contemporânea e nos perguntamos sobre o que a sociedade de um modo geral ama, sobre o que a massa societal abjeta deseja para si com toda a força de sua alma, nos impressionamos com a morbidez deste desejar.

O único horizonte que o homo brasilienses vislumbra como sendo uma via para a sua elevação é a da obtenção de benesses materiais. De preferência sem grandes esforços.

A lei de Gerson, emblemática em nossa cultura, representa de modo singular a base de nossos desejos enquanto sociedade onde o que conta como forma de realização do ser humano seria tão só o "se dar bem" no fim das contas, mesmo que isso não o tenha tornado melhor em nenhuma dimensão de sua existência.

Pior que isso, é termos de ver esse tipo de mentalidade contagiando as classes ditas esclarecidas que, nada mais seriam, as pessoas que obtiveram uma relativa estabilidade financeira, uma boa educação formal. Estando neste patamar, ainda são incapazes de cultivar o gosto por questões mais decantadas. São raras as almas que amam a poesia, a literatura, a filosofia, as humanidades de uma geral e a verdade de um modo singular. Preferem uma existência rasa e tosca. Uma vida superficial tal qual os objetos que ama, tal qual a sua alma.

Um dos grandes padres do deserto, Evágrio Pôntico, nos admoestava para o fato de que, quando nosso intelecto está dominado pelos nossos vícios, estaríamos sendo dominados pelo desejo de vanglória.

O mesmo nos lembra que esta, a vanglória, é uma paixão irracional que facilmente se enraíza em todas as obras de virtude, pois a glória das coisas humanas submetidas unicamente ao julgo e orientação de valores segundos (imediatistas), seria a mesma coisa que fazer belos desenhos sobre a água.

Quando assim nos portamos, resumimos a vida, de uma maneira extremamente perigosa, a uma simplória busca pela sobrevivência, como se fossemos cães bípedes e de pouca pelagem e com uma perspectiva de vida unicamente presa a preocupação de saciar nossos apetites e nada mais.

Todavia, apesar de tratarmos a nossa vida de maneira vulgar, a Vida, em si, não tem essa forma. Dificilmente o intelecto humano poderá inteligir a realidade de modo satisfatório sendo que este tem por objeto amado unicamente a realização de seus anseios e a afirmação (tola, diga-se de passagem) de impressões subjetivas. Como amar a verdade negando-a o tempo todo?

Não é à toa que sociedade vive como uma massa caótica e disforme. Assim o é por adotar a superficialidade como forma e não o ser em sua profundidade.

E o pior de tudo isso é que acreditamos que mesmo amando o que há de mais pérfido e ralo devemos ser merecedores dos mais áureos louros. Queremos ser afortunados trabalhando pouco. Pior! Possamos de sábios, sem nunca termos amado a Sabedoria. Desejamos muitas vezes entender o mundo e a vida sem ao menos termos nos dado ao luxo de procurar realmente conhecer a ambos.

Por fim, eis aí mediocridade humana na sua forma mais degrada e fingida que se nega subir os degraus do conhecer, por nunca ter sinceramente desejado conhecer, mas que, nem por isso, abre mão da pose de tolo ilustrado na arte de nada saber e de tudo fingir para assim melhor se enganar, se auto-enganar. Deste modo, quanto estiver na frente de um espelho poderá se esconder da vergonhosa realidade espiritual e intelectual do que somos e do que amamos ser.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.