Passados quase um ano da queda do vôo 1907 da Gol e três meses do choque e incêndio do 3054 da TAM, o governo ainda não prestou contas à sociedade sobre as duas tragédias aéreas que comoveram o país e até hoje impõem medo e terror a quem têm a necessidade de voar. Não sabemos os motivos que deram causa aos acidentes dos dois aviões, interrompendo 354 vidas. Assistimos pasmos à crise dos controladores, as trapalhadas governamentais, o crime militar de desobediência, a queda de ministro, a chegada do ministro falastrão, as acusações cruzadas, mas, infelizmente, nada serviu de esclarecimento. Continuamos sem saber por que o Legacy derrubou o Boeing e o Airbus não parou na pista. Além das investigações dos órgãos especializados, duas CPIs foram montadas – uma na Câmara e outra no Senado Federal – mas, até agora, nada de conclusivo produziram. Dão até a impressão de que foram criadas para confundir ou abafar! Depois do impacto das tragédias, a nação é credora de explicações. Quer saber o quê levou o Legacy a trafegar no mesmo nível do Boeing a ponto de chocarem-se. Precisa conhecer as razões da não frenagem do Airbus, que correu toda a pista de Congonhas até espatifar-se no prédio da própria companhia aérea, sem deixar em seu trajeto qualquer sinal de derrapagem. São questões da mais alta relevância e, até agora, pendentes. A sociedade exige notícias convincentes dessas causas e, principalmente, das providências concretas adotadas para que não se repitam. A perícia nas caixas pretas e nos restos dos aviões certamente forneceu elementos para essa medida reparadora e tranqüilizadora ao usuário de avião e a todos que, morando ou não perto dos aeroportos, poderão ser envolvidos em futuros acidentes aéreos. Só depois de conhecidas (e divulgadas) as causas é que se admite a caça aos culpados, sejam eles controladores, dirigentes do sistema ou integrantes das companhias aéreas. Todos têm de pagar exemplarmente pelos seus erros, mas depois de corrigidos eficientemente os pontos falhos do sistema. O transporte aéreo constitui elo importante da economia nacional. Empresas o utilizam para distribuir seus produtos e movimentar seus executivos e técnicos, levando o progresso aos pontos mais longínquos. O avião é responsável por salvar vidas, transportando medicamentos e órgãos ou removendo pacientes graves. O modal ainda é básico para o turismo e muitas outras atividades. Mas para operar precisa, no mínimo, estar íntegro e, principalmente, confiável. As autoridades – inclusive o presidente da República – devem à sociedade a notícia do que já se concluiu sobre o Boeing da Gol e o Aibus da TAM. Precisam dizer o que já foi (ou será) feito para corrigir as falhas e, finalmente, apresentar os culpados, punindo administrativamente os que forem de sua competência e entregando à Justiça aqueles cujas responsabilidades sejam cíveis ou criminais. Enquanto tudo isso não se concretizar, a aviação comercial brasileira continuará sob suspeita, com o passageiro tendo a sensação de sobrevivente ao final de cada vôo. Como titular das concessões, o governo tem por obrigação remover todas as dúvidas do sistema. Desviar as rotas se não conseguir eliminar os “buracos negros” do controle de vôo. Reduzir o tráfego nos aeroportos congestionados e até impedir a decolagem de aeronaves cujas companhias e fabricantes não provem integridade e manutenção adequada. A aviação é um setor milionário da economia nacional, mas o poder econômico jamais poderá ter peso maior que a segurança... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e presidente da APOMI (Associação dos Policiais Militares do Estado de São Paulo).
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