No rastro da globalização as empresas, de todos os portes e segmentos, sentiram a necessidade de investirem em excelência de gestão, a fim de tornarem-se internacionalmente competitivas. Sistemas de melhoria da qualidade, aumento da produtividade e redução de custos foram implementados para encantar os clientes, aumentar a lucratividade e dar melhores condições de trabalho aos funcionários. Vencida essa etapa elas focaram o marketing social - aplicação de recursos em programas de responsabilidade social, incentivo ao voluntariado e criação de ONGs, no campo da inclusão social e na preservação do meio ambiente. Consolidava-se assim o Terceiro Setor. Nesta oportunidade o nosso destaque vai para a SSVP – Sociedade São Vicente de Paulo – fundada há 174 anos (1833), na França, sob a liderança de Antonio Frederico Ozanam (1813-1853), tendo, hoje, presença em 135 países. Quantas empresas conhecemos com essa pujante longevidade? Foram, também, fundadores da SSVP: Paul Lamache, Françóis Lallier, Jules Devaux, Félix Clave e Emmanuel Bailly. Estava lançada, assim, em terreno fértil, a semente de um movimento que, rapidamente, ganharia o mundo. Em 1872, com a instalação da primeira Conferência Vicentina, no Rio de Janeiro, teve início as atividades no Brasil. As Conferências – célula mater da instituição – são pequenos grupos de pessoas que se reúnem semanalmente para o cumprimento das obrigações que, voluntariamente, abraçaram. A essência da SSVP encontra-se nos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja Católica Apostólica Romana. Visitas domiciliares aos assistidos, administração de hospitais, creches, casa de repouso para idosos, e a obtenção de recursos para projetos de inclusão social, são algumas das atividades dos vicentinos. A inabalável fé cristã, uma sólida estrutura administrativa e um processo de gestão participativa foram as principais responsáveis para que a SSVP vencesse o desafio das profundas transformações científicas, tecnológicas, sociais, econômicas, religiosas e culturais, ao longo dos 174 anos de sua exemplar trajetória. Para ser mais explícito destacamos o questionamento que um fariseu fez a Cristo, e está narrado em Mateus (22, 36-40) – “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”. Ozanam, que fundou a SSVP quando tinha apenas 20 anos, foi um homem dotado de elevado grau de inteligência, tendo sido, inclusive, professor da Universidade de Sorbonne. Vida espiritual exemplar e aguçado espírito empreendedor o tornaram um autêntico profeta do Terceiro Setor. A busca da santificação própria, através da prática dos mandamentos de Deus e da Igreja, a missão evangelizadora e o resgate da cidadania do próximo representam os sólidos alicerces das atividades vicentinas. Elas têm sido enriquecidas pelo prática das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade e das quatro teorias humanas ou morais: prudência,justiça,fortaleza e temperança. A escolha de Ozanam pela caridade é referência divina, pois segundo São Paulo (Colossenses 3, 14), “Mas, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição”. É através da prática da caridade que vamos demonstrar o nosso amor à Deus e ao próximo. O movimento de voluntariado, também conhecido como de responsabilidade social, é um caminho adequado para a conquista da tão sonhada Paz mundial. Apostando na ousadia dos empreendedores esperamos que, além do marketing social, as empresas abracem o marketing espiritual, para que possam agregar valores não-tecnológicos e não-econômicos, à cultura organizacional. Será viável? É crer para ver. Nota do Editor: Faustino Vicente (faustino.vicente@uol.com.br) é consultor de empresas.
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