Para evitar que a brincadeira se torne uma dor-de-cabeça, os pais devem ficar atentos e escolher com cuidados os presentes para as crianças
Brincar está ficando cada vez mais perigoso. Peças que podem ser engolidas, imãs que se soltam e tintas tóxicas que prejudicam o organismo levaram a maior empresa de brinquedos do mundo, a Mattel, a fazer um recall de vários produtos, inclusive das bonecas Polly e acessórios da Barbie. A brasileira Gulliver também não hesitou em recolher do mercado peças de um jogo de montar fabricado na China. Em meio à polêmica da proibição da importação desses brinquedos, quem fica na dúvida são os pais: como atender os desejos das crianças sem prejudicar sua segurança? "O perigo de a criança engolir uma peça pequena está em apresentar infecções ou perfurações intestinais, podendo levar até a morte. Nas aspirações de brinquedos, temos casos de sufocação, infecções de vias respiratórias e broncoespasmos, que, conforme a gravidade, também podem provocar tragédias", alerta a pediatra Drª Clarice Arns da Cunha Warnecke, do Hospital Nossa Senhora das Graças. Olhos e ouvidos também merecem atenção. Segundo o Dr. Gustavo Murta, otorrinolaringologista do Hospital Iguaçu, "a introdução de qualquer objeto dentro do ouvido pode ocasionar desde infecções até perfurações e lacerações da membrana timpânica". Nos olhos, o brinquedo pontiagudo pode causar úlceras e perfurações. Porém, os especialistas concordam que os brinquedos não são problema, desde que a supervisão dos pais faça parte da brincadeira. "É papel dos pais limpar os brinquedos regularmente, tanto para higienizá-los, pois as crianças muitas vezes os levam à boca, quanto para buscar peças soltas e rachaduras que possam machucar". E não são apenas os brinquedos "modernos" que preocupam: mesmo os mais tradicionais podem trazer riscos. "Cordas de pular, por exemplo, sempre devem ser usadas sob a supervisão de adultos, pois há o risco de estrangulamento", lembra a médica. A enfermeira Simone Rocco, especialista em cuidados com recém-nascidos, enfatiza: "é importante escolher brinquedos apropriados à faixa etária e inspecionados pelos órgãos competentes. Eles devem ser resistentes e bem costurados". A fim de evitar situações de risco, crianças em idade pré-escolar devem estar sempre acompanhadas por um responsável. "Nesta faixa etária, recomendamos que a criança evite brinquedos compostos por pequenas peças", lembra o Dr. Gustavo Murta. Perigo Não são apenas as crianças mais novas que podem ser prejudicadas por brinquedos com problemas. Produtos feitos com materiais tóxicos, por exemplo são altamente prejudiciais em qualquer idade: "se forem à base de metais pesados, as tintas dos brinquedos podem promover intoxicações e alergias", lembra a Drª Clarice Warnecke. "Brinquedos que envolvem locomoção, como patins, bicicletas e skates, também são campeões em acidentes. Os pais devem incentivar o uso de equipamentos de segurança, como capacete, cotoveleira e joelheira, e ensinar os filhos a andar em locais apropriados, tomando cuidado com a velocidade". No caso dos bebês, é bom evitar o acúmulo de itens. "A poeira acumulada pode produzir alergias na criança. Brinquedos que tenham arestas, pontas, ou qualquer coisa que possa se descolar e produzir peças pequenas que possam ser deglutidas ou aspiradas também devem ficar longe de crianças em idade pré-escolar", informa a enfermeira Simone Rocco. Como agir Para evitar acidentes, o principal é que os pais fiquem atentos aos brinquedos e às brincadeiras e conversem com as crianças sobre os perigos de colocar na boca objetos estranhos. "Caso a criança leve algum objeto à boca, este deve ser retirado imediatamente e com delicadeza, para que não venha a ser engolido. Desaloje o objeto da garganta o mais rápido possível, a fim de evitar asfixia", ensina a pediatra do Hospital Nossa Senhora das Graças. Acidentes à parte, não se deve impedir a criança de divertir-se com seus brinquedos favoritos. Simone Rocco lembra que "a criança aprende brincando com seus brinquedos e também com objetos do cotidiano. O que os pais podem fazer é dar preferência aos brinquedos pedagógicos, que estimulem os sentidos e que sejam adequados aos interesses da criança. A variedade é enorme... basta saber escolher um que seja seguro e adequado às habilidades e expectativas do seu filho!" Para não errar Especialistas listam alguns pontos importantes na hora de comprar e armazenar os brinquedos · Escolha brinquedos adequados à faixa etária da criança. Pais que têm filhos de idades muito diferentes devem deixar os brinquedos dos mais velhos longe do mais novos, determinando os que podem ser usados por todos. · Brinquedos muito pequenos devem ficar longe de menores de 3 anos. Crianças maiores devem ser orientadas a não colocar peças pequenas na boca, nariz e ouvidos. · Compre somente brinquedos que tenham certificação e selo do Inmetro. "Produtos falsificados são mais baratos, mas geralmente não atendem a todas as normas de segurança", alerta a pediatra Clarice Warnecke do Hospital Nossa Senhora das Graças. · Supervisionar as brincadeiras e/ou brincar junto faz bem para pais e filhos. · Tanto em brinquedos novos como velhos, cheque se não há pontas afiadas, peças soltas e pontas. · Evite brinquedos que produzem sons altos. · Ensine as crianças a, no final da brincadeira, "brincar de guardar os brinquedos". Além de tornar os pequenos mais responsáveis, essa medida evita acidentes. · Mantenha todos brinquedos limpos, para evitar contaminação. Sempre que a criança brincar com algo em ambientes externos, limpe o objeto antes de guardá-lo. · Lave os brinquedos de pano a cada 15 dias, usando sabão neutro. Seque ao sol, coloque em um plástico sem ar e deixe por 24 horas no freezer ou congelador para matar os ácaros. · Guarde os bichos de pelúcia que não estão em uso em sacos plásticos, para não acumular poeira.
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